Voepass: Piloto relatou informalmente falha que pode ter derrubado avião horas depois

Acidente com avião da Voepass matou 62 pessoas (Foto: Divulgação/Cenipa)

Reportagem exclusiva publicada neste sábado (2) no portal g1 traz entrevista com um ex-funcionário da Voepass com detalhes sobre o acidente aéreo ocorrido há quase um ano, que resultou na morte de 62 pessoas em Vinhedo (SP).

Segundo o ex-funcionário da Voepass, um piloto que usou o avião ATR 72-500 na madrugada anterior ao desastre comunicou verbalmente à equipe de manutenção que o sistema de degelo da aeronave apresentava falhas. Contudo, essa informação não foi registrada no diário de bordo técnico (TLB), documento que registra ocorrências mecânicas. Sem o registro formal, a liderança do hangar ignorou o problema e liberou o avião para o voo fatal.

O relato detalha que o piloto que fez a advertência verbal à equipe enfrentou dificuldades com o sistema de degelo, que desarmava sozinho durante o voo. A situação deveria ter impedido a decolagem do avião para Cascavel (PR) no dia seguinte. A falta de registro formal da falha foi decisiva para que o time de manutenção não investigasse o problema, já que a orientação das chefias era só fazer ações corretivas se houvesse falhas documentadas.

A cronologia dos eventos no dia do acidente, conforme apurado pelo g1, indica que o avião saiu de Guarulhos à meia-noite, pousou em Ribeirão Preto onde o problema no sistema de degelo foi relatado verbalmente, permaneceu no hangar para manutenção básica sem a devida investigação da falha, e seguiu para os voos seguintes até a queda em Vinhedo às 13h22.

O ex-funcionário destacou na entrevista a pressão interna para evitar que aeronaves ficassem paradas para manutenção, o que resultava em equipes reduzidas e manutenções adiadas, muitas vezes utilizando o procedimento de ação corretiva retardada (ACR) para postergar reparos, mesmo com falhas conhecidas.

“No dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] (alerta emitido quando há problema no degelo) durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer”, disse o ex-funcionário ao g1.

O sistema de degelo, essencial para voos em condições de formação de gelo, foi acionado várias vezes durante o voo final, mas provavelmente não funcionou, conforme análise da perícia. A Polícia Federal, o Cenipa e a Anac investigam o caso, e PF apura de quem foi a responsabilidade pelos procedimentos adotados.

A Voepass afirmou em nota que sempre priorizou a segurança e que, em mais de 30 anos, nunca havia enfrentado um acidente. “Seguimos colaborando com as investigações em andamento, reafirmando nosso compromisso com a apuração dos fatos e contribuindo com a melhoria contínua nos processos de segurança da operação aérea”, informou a companhia.

A Anac informou que acompanha as investigações e que “se ao final desse processo ficar comprovada qualquer infração às normas da aviação civil vigentes, serão aplicadas as devidas sanções aos responsáveis”.

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