
As mudanças que o governo propõe nos investimentos brasileiros via MP deixam ainda mais clara a importância de investir no exterior. É o que defende Caio Schettino, head de alocação da Criteria. Ao InfoMoney, ele disse que “este é um bom momento para lembrar por que não se deve ter todo o capital investido no Brasil”.
A medida é mais um fator que contribui para que o investidor perceba que precisa estar diversificado estruturalmente, segundo Rodrigo Sgavioli, head de alocação do research da XP Investimentos. “É mais um evento com grau muito grande de aleatoriedade, típico de um país emergente, e ter um pedaço do patrimônio lá fora se faz mais necessário do que nunca, para qualquer perfil de investidor”.
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Eles ainda argumentam que o Brasil tem baixa representatividade no mercado global de capitais e, portanto, ter apenas investimentos nacionais significa deixar de lado outras teses importantes no futuro da economia. Sgavioli ainda recomenda aproveitar o enfraquecimento do dólar ao longo de 2025 para começar a investir lá fora: “nem deveria ser esse o drive, mas já que está em promoção, aproveita”.
Mas, por onde começar? Ou como quem já investe no exterior deve rebalancear a carteira conforme o momento macroeconômico atual? Os especialistas apontam o caminho.
Como começar a investir no exterior?
“Para quem está começando, sugiro que a experiência seja gradativa, mas é preciso começar; o conhecimento vem junto, nos esforçamos mais para aprender depois que já começamos”, diz o especialista da XP.
Ele explica que o portfólio lá fora é “tipicamente mais simples”. A recomendação é apostar na tradicional alocação 60/40: 60% em renda fixa, 40% em ações para investidores conservadores e a proporção inversa para os mais arrojados. Para os conservadores, esse portfólio global deve representar algo entre 5% e 10% de toda a carteira de investimentos, enquanto os mais sofisticados podem chegar a alocar 20% do patrimônio lá fora, segundo a recomendação da XP.
Além dos ativos tradicionais, Sgavioli conta que a XP vem recomendando investimentos alternativos, como ativos imobiliários ou hedge funds, que protegem contra a inflação e fogem da correlação entre renda fixa e Bolsa, que vem se modificando nos últimos anos. Essa parcela de 5% a 5,5% do portfólio é importante para proteger o investidor da volatilidade das ações e até da renda fixa, que cresceu recentemente.
Onde investir no exterior?
Na renda fixa, a XP tem recomendação para ativos com vencimento entre três e quatro anos, com maior exposição a títulos do governo, já que os spreads estão muito comprimidos e “não dá para ter tanta exposição a crédito privado porque o investidor não está sendo tão bem remunerado pelo risco”, segundo o head de alocação do research da XP.
Nas ações, “é essencial olhar para teses de crescimento estrutural”, segundo Schettino, da Criteria. Ele diz que, no longo prazo, os setores de tecnologia deve performar bem, assim como utilidades públicas, já que o consumo de energia deve aumentar com a infraestrutura para o desenvolvimento de inteligência artificial e outras tecnologias.
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O especialista também cita o setor financeiro e de saúde como bem preparados para uma nova economia e questiona: “como o Brasil participa dessas três pautas?”, para argumentar que é preciso investir no exterior.
Schettino recomenda se expor a essas e outras teses via ETFs, já que eles reúnem várias ações e acrescentam diversificação ao portfólio dos investidores.
A XP vem se sentindo mais confortável com os investimentos em empresas ligadas à inteligência artificial enquanto diminui a exposição a setores considerados defensivos. Nessa estratégia, duas objeções são comuns: receio de uma recessão nos Estados Unidos e avaliação de que as empresas de tecnologia estão caras. Mas Sgavioli argumenta que “por mais que haja um grande ruído macro, o micro segue muito forte e os Estados Unidos ainda serão o centro da transformação no próximo século”.
Sobre o valuation das big techs, ele lembra que o indicador mais usado para classificar como caros os papéis é o preço/lucro (P/L), mas questiona: “o que é P/L de uma empresa que tem custo marginal zero? Pode ser que o P/L dessas empresas seja muito maior no futuro e o retorno sobre patrimônio também, é preciso cautela para cravar que estão caras”.
Como calibrar a carteira global?
Os “ajustes finos” do portfólio no exterior devem ser feitos a cada três meses, enquanto mudanças mais relevantes na alocação podem ser consideradas anualmente, segundo Rodrigo Sgavioli.
A frequência menor de mudanças na carteira é possível quando o investidor foca no longo prazo, com a consciência de que oscilações de curto prazo não afetam a estratégia, a não ser quando impactam os fundamentos da aplicação. “Geralmente deixamos dinheiro na mesa ao não olhar para o longo prazo. O efeito de ter um portfólio dolarizado é proteger o patrimônio aqui no Brasil ao longo do tempo”, diz o especialista.
Ao pensar nas alocações internacionais, o investidor não deveria esperar janelas de oportunidade, segundo Caio Schettino: “não pode ser algo esporádico, diversificação global precisa ser um hábito”.
Agir com base na emoção e conforme o sentimento do mercado também “pode ser danoso”, segundo Sgavioli. “É preciso lembrar que quando vendemos algo, precisamos comprar depois e, de preferência, algo melhor, então gastaria mais tempo fazendo pequenos ajustes na carteira, calculando se posso tomar mais risco, se devo me expor mais ou menos à renda fixa ou ações”.
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