
O presidente Donald Trump tem possibilidade de intervenção sobre o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA. A gestão do republicano poderia empurrar os Estados Unidos a um perigoso experimento de política monetária, com juros artificialmente baixos e pressão direta sobre o presidente do Fed, Jerome Powell.
“Esse ataque à independência do Fed é uma das coisas mais perigosas no cenário hoje, junto com a situação fiscal americana, que é muito ruim”, afirmou Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset. Para ele, Trump tem um perfil impulsivo, “governa pelo sentimento” e vê os juros como um desperdício. “O sonho dele é ter uma política monetária parecida com a do Japão, com juros reais zero ou até negativos”, apontou.
Luis Stuhlberger e André Jakurski, sócio-fundador da JGP, debateram, sob a mediação de José Berenguer, CEO do Banco XP, os riscos e forças que moldam o cenário macroeconômico, durante a 4ª Conferência Institucional do Banco XP, realizada em paralelo à Expert XP 2025, com gravação disponível no canal do Stock Pickers.
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Política, juros e pressão
Stuhlberger destacou que Trump já vem ensaiando um “shadow Fed”, pressionando Powell e buscando influenciar futuros membros votantes do comitê de política monetária. “Ele vai ter quatro membros permanentemente dovish em 10 ou 11, ou seja, inclinados a cortar juros, independentemente das condições da economia”, alertou. Para o gestor, o risco não é apenas a demissão de Powell, mas a instalação de uma política monetária com viés político e efeitos potencialmente devastadores sobre o dólar.
“O mercado está transferindo o corte de juros deste ano para o próximo porque acredita que, se o Powell não cortar, o próximo Fed vai cortar tudo de uma vez”, explicou Stuhlberger. Isso, segundo ele, pode provocar uma maciça desvalorização do dólar — movimento que, paradoxalmente, é visto por Trump como solução para os problemas da economia americana.
Jakurski concordou: “O Trump acha que desvalorizar o dólar é o caminho para resolver os problemas. A questão é que isso pode gerar uma inflação estrutural nos EUA, muito diferente da deflação histórica da economia japonesa”.
Futuro do sistema monetário
Os dois gestores também discutiram o impacto das novas tecnologias sobre o sistema financeiro global. Berenguer levantou a possibilidade de as stablecoins e os novos sistemas de pagamento globais acelerarem a fuga da poupança mundial do dólar. Jakurski foi cético. “Vai ser difícil fugir do padrão dólar no horizonte visível. Não por mérito do dólar, mas por falta de mérito das alternativas”, disse.
Ele citou a falta de segurança jurídica da China e as limitações estruturais da Europa. “O euro não é nem uma moeda, é um tratado. E tratados, ao longo da história, se esvaem”, afirmou. Mesmo reconhecendo que o dólar pode estar sobrevalorizado, ele ressaltou que, historicamente, quem manteve sua poupança em dólar teve retornos superiores, graças aos juros mais altos praticados nos EUA.
Stuhlberger complementou que o atual cenário de juros altos nos EUA pode até atrasar a valorização do ouro, mas vê potencial de alta no ativo, especialmente diante da instabilidade institucional americana.
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