
Para Gustavo Constantino, sócio e CIO da Távola Capital, o comportamento das ações de utilities — empresas de energia e saneamento, tradicionalmente defensivas — é o melhor termômetro para entender o movimento do mercado.
“No final do ano passado, utilities tinham um prêmio de oito pontos sobre a NTN-B. Hoje, esse spread caiu para 2 ou 3 pontos. Elas subiram de 30% a 40% este ano. O mercado andou, e muito”, destacou. Esse movimento reforça seu argumento de que a percepção de que os ativos estão baratos não se sustenta quando se olha para os preços atuais.
Constantino participou do programa Stock Pickers. “Barato ou caro é sempre uma ponderação de cenários. A bolsa está barata para um cenário preciso, mas existem outros possíveis que precisam ser levados em conta”, afirmou durante entrevista conduzida por Lucas Collazo.
O sócio alerta que o mercado tende a enxergar apenas o cenário otimista, guiado muitas vezes por movimentos de preço. “As coisas começaram a subir, e aí vem a narrativa para justificar. Mas pouca coisa mudou estruturalmente desde o fim do ano passado”, disse.
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“Investir é arbitrar paciência”
Constantino reconhece que, diante da forte recuperação recente da bolsa, muitos investidores são dominados pelo FOMO — o medo de ficar de fora do próximo bull market. “A ansiedade está enorme. A indústria sofreu muito nos últimos anos, e ninguém quer perder o próximo rali. Mas isso pode levar a decisões precipitadas”, comentou.
Ele reforça que o trabalho da Távola é resistir a essa pressão e manter a disciplina. “A gente sempre tenta entender qual é nosso diferencial para estar investindo. Às vezes, é uma pesquisa mais profunda. Outras vezes, é ter paciência. A nossa função é arbitrar essa paciência”, explicou.
Mesmo assim, Constantino admite que o desconforto é constante: “O tempo todo nos perguntamos se estamos com o tamanho certo em cada posição. O cenário pode ser bom, mas o preço precisa justificar a aposta. Não dá para olhar só o cenário. É sempre uma equação entre cenário e preço.”
Estrangeiro animado
O otimismo recente com a bolsa brasileira também se explica, em parte, pela percepção dos investidores estrangeiros. Segundo o sócio, o fluxo externo para ativos locais voltou com força — e, muitas vezes, esse capital acerta o timing. “O estrangeiro costuma operar bem o Brasil. Entra quando tudo parece ruim, investe via índice, e isso muda os preços rapidamente”, comentou.
Para os fundos globais, o Brasil está barato em dólares. “Uma aplicação de US$ 250 milhões, que para eles é pequena, move muito o nosso mercado pelo câmbio. E, de fato, tem gestor global voltando a olhar para o país com interesse”, disse.
Ainda assim, Constantino alerta que isso não muda o cenário estrutural. “Não vimos uma realocação significativa dos investidores locais para ações. As alocações em bolsa ainda são muito pequenas. Tem gestor que brinca que virou quase uma ‘cripto alocação’ na carteira”, afirmou.
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