Quem é José Antonio Kast, o presidente eleito no Chile mais à direita desde Pinochet

A vitória de José Antonio Kast no domingo (14) marca uma nova mudança no pêndulo político chileno e ajuda a explicar por que um nome derrotado duas vezes nas urnas conseguiu, agora, chegar ao Palácio de La Moneda com folga. Aos 59 anos, o líder da extrema direita chilena venceu a eleição presidencial com 58% dos votos e conduziu o país ao movimento mais nítido à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990.

O resultado da eleição chilena o coloca ao lado de outros líderes que puxaram a região para a direita, como Javier Milei, na Argentina, e governos eleitos recentemente em países como Bolívia e Equador.

Kast chega ao poder em um Chile diferente daquele que o rejeitou em 2021, quando perdeu para Gabriel Boric em meio à pandemia, aos protestos contra a desigualdade e às expectativas de uma nova Constituição. Quatro anos depois, o humor do eleitorado mudou. Segurança pública e imigração se tornaram as principais preocupações, abrindo espaço para um discurso duro que antes parecia deslocado.

Filho de militar nazista e ligação com Pinochet

Conservador nos costumes, Kast é católico, pai de nove filhos e opositor histórico do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Já afirmou que pretende reverter a legislação que permite o aborto em casos específicos e banir a pílula do dia seguinte, embora esses temas tenham sido menos enfatizados na campanha, diante do apoio majoritário da população à manutenção das regras atuais.

A trajetória política de Kast é indissociável do período mais sensível da história chilena recente. Filho de um imigrante alemão que foi membro do Partido Nazista e serviu como oficial do Exército, ele afirma que o pai foi recrutado à força antes de fugir para a América do Sul, onde construiu um negócio bem-sucedido no setor alimentício. Seu irmão mais velho, Miguel Kast, foi ministro e presidente do Banco Central durante a ditadura de Pinochet e integrou o grupo dos “Chicago Boys”, responsáveis por implementar as reformas de choque liberal no país.

Ainda estudante de direito, José Antonio Kast fez campanha pelo “sim” no plebiscito de 1988 que tentava manter Pinochet no poder. O ditador perdeu a consulta, abrindo caminho para a redemocratização. Anos depois, Kast construiu uma carreira de mais de uma década como deputado pela União Democrata Independente, partido da direita tradicional, antes de sair para fundar o Partido Republicano e se lançar como outsider conservador.

Perfil reservado e institucional

Diferentemente de figuras como Javier Milei ou Nayib Bukele, de El Salvador, Kast não se apresenta como um político performático. Analistas o descrevem como mais reservado, institucional e experiente, alguém visto por parte do eleitorado como uma figura conhecida em um momento de rejeição ao governo Boric e de esvaziamento do centro político.

Para cientistas políticos, o movimento que o levou ao poder diz menos sobre uma guinada ideológica radical do eleitorado e mais sobre a migração de eleitores frustrados com a esquerda para o único polo disponível.

Capitalização do medo

Embora o Chile siga entre os países mais seguros da América Latina, a entrada de organizações criminosas estrangeiras elevou o número de homicídios, trouxe episódios inéditos como sequestros e assassinatos por encomenda e passou a afetar a atividade econômica. Kast explorou esse sentimento de insegurança acusando o governo Boric de “caos” e “desordem” e prometeu restabelecer “ordem, segurança e confiança”.

Inspirado por Donald Trump e Bukele, Kast tem como plataforma central o combate ao crime e à imigração irregular. Ele defende a construção de muros e barreiras físicas na fronteira, o aumento da presença militar no norte do país e a criação de uma força policial especializada nos moldes do ICE americano para localizar e deportar imigrantes sem documentos, majoritariamente venezuelanos.

Durante a campanha, chegou a dar um ultimato a cerca de 330 mil estrangeiros em situação irregular para deixarem o país antes da posse, sob pena de expulsão imediata.

Receituário liberal na economia

No campo econômico, Kast promete um receituário liberal clássico. Defende flexibilização das leis trabalhistas, corte de impostos das empresas, redução de regulações e um ajuste fiscal agressivo, com a promessa de cortar US$ 6 bilhões em gastos públicos em até 18 meses, ainda sem detalhar como isso será feito.

Para analistas do Bradesco BBI, a vitória de Kast “gera um choque positivo nas expectativas de curto prazo para a economia real e o ritmo da atividade econômica”. No cenário base do banco, a bolsa chilena tem espaço para uma valorização de aproximadamente 21% em dólares, percentual que poderia ultrapassar 50% em um cenário mais otimista. No pessimista, caso as reformas não se confirmem, haveria potencial queda de 16 a 20%.

(com agências internacionais)

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