Projeto registra rota de contágio de vírus letais entre morcegos e outras espécies

Morcegos carregam uma variedade de vírus, incluindo doenças infecciosas que já passaram para humanos em um processo conhecido como transbordamento zoonótico. Em alguns casos, esses mamíferos alados infectaram pessoas diretamente. Mas, em outras situações, os cientistas acreditam que os morcegos transmitiram vírus letais para outras espécies de animais, que subsequentemente infectaram humanos.

Um novo e impressionante vídeo filmado em Uganda fornece evidências visuais diretas de diversos animais selvagens interagindo com morcegos selvagens, revelando quantas oportunidades existem para que vírus potencialmente letais de morcegos saltem para novas espécies. O vídeo foi publicado juntamente com um artigo científico postado online nesta segunda-feira, ainda não revisado por pares.

No dia 17 de fevereiro, Bosco Atukwatse, um jovem biólogo da vida selvagem de Uganda que trabalha com o Kyambura Lion Project, instalou câmeras com energia solar perto da entrada da Caverna da Píton, na Floresta Maramagambo, localizada no Parque Nacional Queen Elizabeth, em Uganda. Seu objetivo era coletar dados sobre leopardos e hienas-malhadas presentes na floresta.

Através de uma mistura de, como ele próprio descreveu, “curiosidade e sorte”, Atukwatse filmou muito mais do que leopardos. Centenas de noites de gravação revelaram uma sequência constante de 13 outras espécies de predadores, entre eles genetos-malhados, civetas africanas, águias-pescadoras africanas, pítons-de-rocha africanas, macacos-de-l’hoest e babuínos. A Caverna da Píton abriga até 50 mil morcegos frugívoros egípcios, e os predadores saíam da caverna com um lanche alado na boca — que haviam caçado ou encontrado como carniça.

— Foi impressionante ver quantos animais vêm se alimentar de morcegos nesse ponto específico — disse Atukwatse. Ele acrescentou: — Basicamente, é uma refeição gratuita para todos na área.

Isso é significativo, em parte, porque os morcegos frugívoros, especialmente os que habitam cavernas da região, são conhecidos por serem reservatórios naturais de doenças infecciosas, incluindo o letal vírus de Marburgo.

— É uma observação realmente importante, porque normalmente fazemos suposições sobre como os animais selvagens entram em contato uns com os outros, mas raramente conseguimos observar isso de fato — afirmou Jonathan Epstein, epidemiologista especializado em zoonoses virais e fundador da One Health Science, que não esteve envolvido no estudo. — Isso nos ajuda a montar o quadro geral.

Embora o vírus de Marburgo não precise de um hospedeiro intermediário para infectar humanos, outros vírus novos podem seguir esse caminho, passando primeiro de morcegos para predadores e, após sofrer mutações, chegando aos humanos.

Apesar de os predadores evitarem se encontrar ou atrapalhar uns aos outros, como observou Atukwatse, eles estavam “ativamente carregando pedaços dos morcegos e os dispersando”.

Ele acrescentou: — Esses animais interagem com outros animais em diferentes partes do parque.

Em uma floresta repleta de vida selvagem, “existem centenas de milhares de vírus sendo compartilhados entre as espécis — eles se alimentam uns dos outros, defecam uns sobre os outros, compartilham saliva”, disse Chris Walzer, diretor executivo de saúde da Wildlife Conservation Society, de Nova York. — O tipo de interação mostrado aqui contribui, como milhares de outras interfaces na floresta, para uma troca viral ou troca de patógenos.

Ele completou: — É um ótimo exemplo do que acontece o tempo todo e acontece há milênios.

Dr. Epstein afirmou que “o transbordamento viral exige que muitos fatores coincidam”. Ver o contato direto entre morcegos e outros predadores é valioso, pois — “isso normalmente é algo que não compreendemos muito bem”.

— É importante entender a que outros animais silvestres esses vírus estão sendo expostos — continuou ele. — Os babuínos são provavelmente os mais interessantes aqui, porque sabemos que primatas são suscetíveis a vírus. Ele descreveu um cenário no qual um surto entre babuínos na floresta pudesse ser relacionado ao vírus de Marburgo.

— Essa observação se torna importante, porque poderíamos olhar para trás e ver que esses babuínos estavam caçando morcegos, o que explicaria como foram infectados — explicou.

Alex Braczkowski, diretor científico do Kyambura Lion Project e coautor do estudo com Atukwatse, comparou a descoberta a encontrar a cena de um crime.

— Sabemos que encontramos algo — disse ele. — Não estamos afirmando saber o que isso significa. Só sabemos que é um portal para algum lugar.

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