A eleição do presidente chileno mais à direita desde o ex-ditador Augusto Pinochet animou o mercado. Segundo analistas, a vitória de José Antonio Kast abriu uma nova fase para a economia do país e recolocou o país no radar positivo de investidores depois de anos de incerteza regulatória, baixo crescimento e pressão fiscal. Agentes passam a apostar que o novo governo pode destravar investimentos, reforçar a disciplina nas contas públicas e devolver previsibilidade às regras do jogo.
O otimismo, no entanto, vem acompanhado de cautela. Analistas destacam que o resultado expressivo nas urnas melhora a legitimidade de Kast, mas não elimina os desafios de um Congresso fragmentado nem resolve, por si só, os desequilíbrios fiscais acumulados.
Agenda pró-mercado
A principal aposta do mercado está na agenda econômica defendida pelo presidente eleito. Kast prometeu reduzir impostos para empresas, simplificar regras e acelerar licenças para grandes projetos, especialmente em setores estratégicos como mineração, energia e infraestrutura.
Entre as propostas está o corte do imposto de renda corporativo, hoje em 27%, para 23% ao longo do mandato, além da eliminação do imposto sobre ganhos de capital em ações de menor liquidez. A ideia é tornar o Chile mais competitivo e atrair novos investimentos privados.
Para Sol Azcune, da XP, a vitória sinaliza uma mudança clara de prioridades. Segundo ela, o eleitorado passou a dar mais peso à retomada da atividade econômica, à segurança e à imigração, abrindo espaço para uma agenda mais favorável ao crescimento e ao investimento.
O Bradesco BBI avalia que o resultado das urnas criou um “choque positivo de expectativas”, ao reduzir o risco político no curto prazo e reforçar a percepção de um mandato pró-mercado, após quatro anos de deterioração da confiança.
Ajuste fiscal é o principal desafio
Apesar do discurso liberal, o espaço para cortes de impostos é limitado pela situação das contas públicas. O Chile vem descumprindo sua regra fiscal e viu a dívida pública saltar de níveis muito baixos para mais de 40% do PIB nos últimos anos.
Durante a campanha, Kast prometeu cortar cerca de US$ 6 bilhões em gastos públicos nos primeiros 18 meses de governo. Analistas alertam que cumprir essa meta não será simples. O presidente eleito afirmou que não pretende reduzir programas sociais, o que concentra o ajuste em despesas administrativas ou investimentos.
Segundo o Goldman Sachs, reduzir impostos sobre empresas sem compensação pode enfraquecer o esforço fiscal. Para o banco, um corte relevante no imposto corporativo tende a diminuir a arrecadação e pode exigir, mais à frente, mudanças em outros tributos para evitar desequilíbrios maiores. Na avaliação do banco, uma reforma “neutra” em termos de receita provavelmente exigiria aumento de impostos sobre pessoas físicas.
Otimismo com ressalvas
A capacidade de avançar com reformas dependerá da articulação política. Kast não terá maioria no Congresso e precisará negociar com partidos de centro-direita e, em alguns casos, com setores mais moderados da oposição. Por isso, a formação do gabinete é vista como um dos primeiros sinais relevantes para o mercado.
A leitura predominante é que o Chile ganhou uma janela de oportunidade. Se o novo governo conseguir combinar ajuste fiscal, reformas pró-investimento e diálogo, o país pode acelerar o crescimento e recuperar parte do valor perdido nos ativos locais. “A implementação dessa agenda, no entanto, tende a ser complexa, dado o elevado grau de polarização política e o fato de que o novo governo não contará com maioria própria no Congresso”, alerta Azcune, da XP.
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