Vai cair ainda mais? Com queda de 21% no acumulado de 2025, as ações do Grupo Mateus (GMAT3) tiveram a recomendação cortada pelo JPMorgan de neutro para underweight (exposição abaixo da média, equivalente à venda), sem preço-alvo para os ativos.
O banco justifica o rebaixamento por conta de uma projeção mais desafiadora para o crescimento da receita em 2026.
As tendências de vendas continuaram a se deteriorar de forma constante para o setor de varejo de alimentos nos últimos meses, enquanto a esperada desaceleração da inflação de alimentos até meados de 2026 deve representar um cenário de preços desafiador, em um momento em que (1) o setor enfrenta dificuldades para aumentar o volume de vendas em meio a (2) fortes tendências de migração para produtos mais baratos e uma resposta limitada dos consumidores às atividades promocionais. Assim, avalia a equipe de análise, torna-se difícil prever uma recuperação significativa do volume de vendas com a queda da inflação.
“Diante disso, vemos riscos de que as vendas nas mesmas lojas (SSS) se tornem negativas no primeiro semestre de 2026, limitando o espaço para ganhos de margem, mesmo considerando as iniciativas de eficiência, enquanto a geração de fluxo de caixa livre (FCF) permanece limitada e errática, podendo levar a um ritmo de expansão mais lento no futuro”, aponta.
Embora vejam espaço para melhorias operacionais, particularmente na eficiência de despesas e capital de giro em meio a um cenário desafiador para a receita, os analistas acreditam que, após os recentes ajustes contábeis que afetaram os estoques reportados e a margem bruta devido a problemas de controle em seu sistema ERP proprietário, as questões de governança corporativa devem manter a empresa fora do radar de muitos investidores.
No fim de novembro, após a divulgação dos resultados do 3T25, as ações registraram sessões de forte queda após o balanço apontar erro de R$ 1,1 bilhão em estoques valorizados no seu balanço patrimonial de 2024. Isso por conta de erros nos cálculos do custo médio das mercadorias vendidas, que é considerado um dos pontos mais sensíveis nos balanços de varejistas.
Os analistas do banco revisaram para baixo suas projeções de Vendas/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para 2026 em 8%/14%, enquanto o LPA (Lucro por Ação) permanece praticamente inalterado devido ao reconhecimento da subvenção fiscal do ICMS (-16% excluindo este fator) e está 10-15% abaixo do consenso de LPA para 2026/2027.
Com isso, vê o valor justo da empresa variando entre R$ 4,00 e R$ 4,50 por ação para dezembro de 2026 (a ação fechou a R$ 4,63 na última quinta-feira), enquanto retirou a projeção de preço-alvo para dezembro de 2026.
O Grupo Mateus negocia com desconto em relação aos varejistas brasileiros, mas com qualidade de lucros abaixo da média, dada sua alta dependência de incentivos fiscais, apontam os analistas. A preferência setorial do banco é por Assaí (ASAI3).
“A desinflação de alimentos, somada a um cenário macroeconômico fraco, pinta um quadro sombrio para a receita. Acreditamos que os fatores macroeconômicos provavelmente serão desfavoráveis para as vendas, principalmente porque o JPMorgan prevê que a inflação de alimentos em relação ao ano anterior desacelere de forma constante nos próximos meses, chegando perto de zero em meados de 2026, criando um ambiente desfavorável para a aceleração do crescimento das vendas”, avalia.
Além disso, embora provavelmente melhore no segundo semestre, deverá permanecer abaixo da inflação geral ao longo do ano, representando um obstáculo à expansão das margens. O banco também destaca que o auxílio em dinheiro do Bolsa Família continua a diminuir em relação ao ano anterior nos principais estados da GMAT3, não contribuindo para as tendências de renda disponível, enquanto é improvável que esses estados recebam melhorias significativas no poder de compra provenientes da esperada redução da receita tributária.
As melhorias nos dias de estoque provavelmente serão mais modestas após a reformulação das demonstrações financeiras, avalia.
Enquanto isso, a governança e os controles tornaram-se uma preocupação fundamental. “Um dos principais receios dos investidores estava relacionado aos controles da empresa, visto que as operações cresciam em ritmo acelerado, enquanto a estrutura/sistemas corporativos ficavam para trás, em um contexto no qual os auditores já haviam apontado problemas de controle em demonstrações financeiras anteriores”, apontam os analistas.
Nesse contexto, um tópico recorrente de discussão sobre a empresa está relacionado ao seu alto capital de giro em comparação com seus pares, mesmo considerando suas operações de distribuição/atacado. Além disso, a baixa contábil de estoque de R$ 1,1 bilhão relacionada a controles frouxos sobre os números de estoque, além da contabilização de custos e impostos, levantou preocupações adicionais nesse aspecto, especialmente porque a visibilidade por trás dos ajustes é limitada. Dito isso, apesar do desempenho abaixo do esperado após os resultados do 3º trimestre de 2025 e dos ajustes contábeis, não vê muitos investidores dispostos a investir nessa empresa neste momento, reforça o banco.
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