Ford anuncia US$ 19,5 bi em encargos por reestruturação no setor de carros elétricos

A Ford anunciou uma grande reformulação no seu negócio de veículos elétricos depois de anos tentando, sem sucesso, torná-lo lucrativo.

A mudança estratégica vai gerar um impacto de US$ 19,5 bilhões em custos, a maior parte deles no quarto trimestre, informou a Ford em comunicado na segunda-feira. Como parte do plano, a montadora cancelou a produção da caminhonete elétrica da linha F-Series, vai focar na fabricação de veículos a gasolina e híbridos, e vai transformar uma fábrica de baterias para veículos elétricos.

Além disso, a Ford vai transformar a sua caminhonete elétrica F-150 Lightning em um modelo híbrido com maior autonomia.

Essas ações devem fazer com que a divisão de veículos elétricos da Ford, chamada Model e, comece a dar lucro até 2029, disse Andrew Frick, chefe da área de EV, em entrevista. No ano passado, a Ford teve prejuízo de US$ 5,1 bilhões nessa divisão e espera que as perdas sejam ainda maiores neste ano.

“A realidade mudou, e estamos redirecionando investimentos para áreas com maior retorno,” afirmou o CEO Jim Farley.

A empresa também revisou para cima sua previsão de lucro para 2025, que agora é de US$ 7 bilhões antes de juros e impostos, contra a estimativa anterior de US$ 6 a 6,5 bilhões.

Farley acredita que a demanda por veículos plug-in vai cair pela metade depois que o ex-presidente Donald Trump revogou boa parte das políticas do governo Biden. Com isso, as montadoras buscam formas de minimizar os prejuízos causados por fábricas paradas. Em outubro, a General Motors já havia registrado um custo de US$ 1,6 bilhão para desvalorizar seus ativos de veículos elétricos.

Uma das alternativas mais promissoras é transformar fábricas de baterias para veículos elétricos em unidades que produzem células para armazenamento de energia, um mercado que cresce com o aumento dos centros de dados de inteligência artificial e a necessidade de modernizar a rede elétrica. Segundo dados preliminares da Administração de Informação de Energia dos EUA, o armazenamento em baterias cresceu 50% nos primeiros 10 meses deste ano, chegando a quase 39,3 gigawatts.

Essas células de armazenamento ajudam a usar melhor a rede elétrica atual, já que não é possível construir usinas novas rápido o suficiente para atender a demanda dos grandes centros de dados, que consomem energia equivalente a cidades inteiras.

Para que esse negócio, que exige muito investimento e tecnologia, seja lucrativo, os fabricantes defendem que créditos fiscais para a produção são essenciais.

A Ford vai parar a produção na fábrica de baterias para veículos elétricos em Glendale, Kentucky, que passará por uma transformação de US$ 2 bilhões para produzir células para armazenamento de energia para a rede elétrica. Os 1.600 funcionários da fábrica serão demitidos durante a reforma, mas a empresa planeja contratar 2.100 pessoas para o novo negócio quando a unidade reabrir em 2027.

A montadora também assumiu o controle de duas fábricas de baterias em Glendale, após o fim da parceria com a sul-coreana SK On. Apenas uma dessas fábricas está funcionando, e a Ford vai mudar a produção para baterias de fosfato de ferro-lítio (LFP), que são mais baratas, usando um acordo com a chinesa Contemporary Amperex Technology Co. Ltd. Essas baterias serão vendidas exclusivamente para armazenamento de energia.

A fábrica de Marshall, em Michigan, também vai produzir baterias LFP para armazenamento, além de uma nova linha de veículos elétricos pequenos e mais baratos, prevista para 2027.

A Ford planeja transformar uma fábrica em construção em Stanton, Tennessee — sua primeira nova planta em 50 anos — para fabricar caminhões a gasolina, em vez de picapes totalmente elétricas. A planta vai produzir um modelo novo, que ainda não faz parte da linha atual da montadora. A abertura da fábrica foi adiada para 2029, um ano depois do previsto.

A maior parte dos US$ 19,5 bilhões em custos especiais será contabilizada no resultado do quarto trimestre, com o restante em 2026 e 2027. A empresa espera um impacto em caixa de cerca de US$ 5,5 bilhões, que será pago principalmente no próximo ano.

A Ford prevê que, até 2030, metade das vendas globais será de híbridos, veículos elétricos com maior autonomia e elétricos puros, contra 17% atualmente.

“São decisões importantes que acreditamos que vão trazer retorno por muitos anos,” disse Frick. “Em vez de gastar bilhões em grandes veículos elétricos que não têm caminho para dar lucro, estamos investindo em áreas com maior retorno.”

© 2025 Bloomberg L.P.

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