Estudo associa o consumo de queijo a menor risco de demĂȘncia

Em um novo estudo de grande porte publicado nesta quarta-feira, pesquisadores identificaram que o consumo de queijo e creme de leite com alto teor de gordura esteve associado a um menor risco de desenvolver demĂȘncia.

Amantes de queijo podem comemorar. Mas convém ter cautela antes de celebrar com um bloco inteiro do seu cheddar favorito.

Queijos e cremes sĂŁo ricos em gorduras saturadas, e as diretrizes nutricionais hĂĄ dĂ©cadas recomendam limitar o consumo desse tipo de gordura, com base em evidĂȘncias robustas de que elas elevam o LDL, o chamado “colesterol ruim”, e o risco de infarto ou AVC.

Recentemente, porĂ©m, autoridades federais de saĂșde dos Estados Unidos passaram a questionar essa recomendação. O secretĂĄrio de SaĂșde, Robert F. Kennedy Jr., afirmou que a prĂłxima edição das diretrizes alimentares federais, prevista para o inĂ­cio de 2026, vai rever o conselho de limitar gorduras e “ressaltar a necessidade de consumi-las”. Muitos especialistas temem que essa mudança leve a um aumento das doenças cardiovasculares.

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Ainda assim, hĂĄ debate entre cientistas sobre se laticĂ­nios integrais de fato elevam riscos Ă  saĂșde. O estudo mais recente soma-se a algumas evidĂȘncias de que esses alimentos podem ser neutros ou atĂ© benĂ©ficos, inclusive em relação Ă  demĂȘncia ou Ă s doenças cardiovasculares. Esses resultados nĂŁo significam que gorduras saturadas sejam saudĂĄveis, mas sim que outros componentes de certos laticĂ­nios podem compensar os possĂ­veis efeitos negativos das gorduras, afirmou Emily Sonestedt, epidemiologista nutricional da Universidade de Lund, na SuĂ©cia, e autora principal do estudo.

Especialistas ressaltam, no entanto, que a pesquisa tem limitaçÔes e mostra apenas associaçÔes, não uma relação de causa e efeito. Para ajudar a interpretar os resultados, ouvimos especialistas.

O que o novo estudo encontrou?

A pesquisa, publicada na revista Neurology, Ă© uma das maiores e mais longas a examinar a relação entre o consumo de laticĂ­nios e o risco de demĂȘncia, disse a mĂ©dica e epidemiologista nutricional Patricia Chocano-Bedoya, da Universidade de Berna, na Suíça, que nĂŁo participou do trabalho.

Na década de 1990, os pesquisadores recrutaram cerca de 28 mil adultos, entre 45 e 73 anos, na Suécia, e coletaram informaçÔes detalhadas sobre a alimentação. Os participantes registraram tudo o que comeram e beberam durante sete dias e responderam a um questionårio escrito e a uma entrevista presencial.

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Em 2014 e novamente em 2020, os pesquisadores analisaram quantos participantes haviam desenvolvido demĂȘncia, com base em dados mĂ©dicos de um registro nacional sueco. Em seguida, avaliaram se o consumo de diferentes laticĂ­nios no inĂ­cio do estudo estava associado Ă  probabilidade de desenvolver demĂȘncia anos depois. As anĂĄlises controlaram outros fatores de saĂșde, como tabagismo, consumo de ĂĄlcool, hipertensĂŁo e histĂłrico familiar de doenças cardiovasculares.

AtĂ© 2020, cerca de 10% das pessoas que relataram consumir ao menos 50 gramas por dia de queijo com alto teor de gordura, como cheddar, brie ou gouda, haviam desenvolvido demĂȘncia, ante 13% entre aquelas que consumiam menos de 15 gramas diĂĄrios. Cinquenta gramas equivalem a cerca de 1,8 onça, pouco mais que a porção recomendada nos EUA, de 1,5 onça, correspondente a duas fatias de cheddar para sanduĂ­che. As diretrizes americanas recomendam que adultos consumam cerca de trĂȘs porçÔes de laticĂ­nios por dia, preferencialmente versĂ”es sem gordura ou com baixo teor de gordura.

Segundo o estudo, pessoas que consumiam ao menos 20 gramas diĂĄrios de creme de leite integral, o equivalente a cerca de 1,3 colher de sopa de creme de leite fresco, tambĂ©m apresentaram menor probabilidade de desenvolver demĂȘncia em comparação com quem nĂŁo consumia o produto.

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Os pesquisadores nĂŁo encontraram associação entre o consumo de manteiga, leite, leite fermentado, queijo com baixo teor de gordura ou creme light e o risco de demĂȘncia.

O estudo tem vĂĄrias limitaçÔes e deve ser “interpretado com cautela”, afirmou Tian-Shin Yeh, mĂ©dico e epidemiologista nutricional da Universidade MĂ©dica de TaipĂ©, em editorial publicado junto com o trabalho. Um dos pontos Ă© que a dieta dos participantes foi avaliada apenas uma vez, no inĂ­cio do estudo. Ao longo das dĂ©cadas seguintes, os hĂĄbitos alimentares podem ter mudado.

HĂĄ algo especial no queijo?

Sonestedt reconheceu as limitaçÔes da pesquisa e destacou que os resultados podem não se aplicar a países como os Estados Unidos, onde grande parte do queijo consumido é processada e geralmente vem acompanhada de alimentos como pizza, sanduíches e tacos.

Ainda assim, segundo ela, é possível que componentes potencialmente benéficos do queijo, como as vitaminas K e B12 ou minerais como o cålcio, contribuam para efeitos positivos.

Os resultados nĂŁo devem ser interpretados como uma liberação geral das gorduras saturadas, disse Deirdre K. Tobias, epidemiologista do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. Pesquisas mostram de forma consistente que gorduras saturadas estĂŁo associadas a riscos de saĂșde no longo prazo, inclusive para demĂȘncia, enquanto gorduras insaturadas, presentes em azeite de oliva, Ăłleo de canola, peixes, nozes e sementes, estĂŁo associadas a menor risco.

Além disso, muitos estudos que apontam efeitos neutros ou positivos dos laticínios integrais, incluindo este, não conseguem captar plenamente outros aspectos da dieta dos participantes, afirmou Tobias.

Em comparação com outros alimentos comuns na dieta, como os ricos em carboidratos refinados, os laticĂ­nios integrais podem parecer melhores, ou ao menos nĂŁo piores, para a saĂșde. Mas quando comparados a alimentos como grĂŁos integrais, azeite de oliva, leguminosas ou nozes, esses Ășltimos estĂŁo de forma consistente associados a melhores desfechos de saĂșde.

Qual Ă© a conclusĂŁo?

As pessoas não deveriam necessariamente aumentar o consumo de queijo com base apenas nos resultados deste estudo, disse Sonestedt. Ainda assim, os dados sugerem que, com moderação, o queijo pode fazer parte de uma alimentação saudåvel.

Mesmo assim, hĂĄ opçÔes melhores para a saĂșde do cĂ©rebro, afirmou Yeh. Pesquisas indicam de forma consistente que dietas ricas em vegetais, como a mediterrĂąnea ou a dieta MIND, reduzem o risco de declĂ­nio cognitivo. Isso envolve consumir muitas frutas, verduras, legumes, grĂŁos integrais, nozes e sementes, alĂ©m de gorduras saudĂĄveis, como as presentes no azeite de oliva e nos peixes.

c.2025 The New York Times Company

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