
A possibilidade de o Bradesco (BBDC4) abrir capital de sua seguradora foi um dos temas centrais da conversa entre Alan Cardoso, da Dahlia, e Pedro Gonzaga, da Mantaro, durante episódio do podcast do setor financeiro da XP, apresentado por Bernardo Guttmann, head do setor financeiro no Research da XP, e Mateus Guimarães, da XP Inc. Ambos os convidados demonstraram ceticismo quanto à medida.
“O Bradesco já negocia suas ações a seis ou sete vezes o lucro deste ano, enquanto seguradoras operam a múltiplos entre oito e dez vezes ou mais. A seguradora do Bradesco tem uma rentabilidade sobre patrimônio líquido acima de 20%, chegando até 30%, ou seja, é o filé do negócio. Dividir isso com alguém criaria conflitos desnecessários”, alertou Gonzaga. Segundo ele, salvo em caso de extrema necessidade de capital, o movimento não faz sentido estratégico.
Alan Cardoso reforçou a visão. “Abrir capital da seguradora traria muita complexidade regulatória e de governança. Empresas abertas precisam lidar com ritos que tornam a operação mais lenta. O Bradesco e o Banco do Brasil (BBAS3) fecharam capital da Cielo justamente para ganhar agilidade. Não vejo vantagem em repetir o caminho inverso”, afirmou.
Ainda assim, Cardoso ponderou que, se a medida fosse levada adiante, o escrutínio do mercado poderia acelerar transformações internas. “O mercado, muitas vezes, ajuda no direcionamento estratégico das empresas. Mas, novamente, a menos que o aporte de capital seja muito relevante, não vejo sentido na venda de parte da seguradora.”
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Santander é destaque: alta rentabilidade e possível fechamento de capital animam analistas
Na sequência, o foco se voltou para o Santander Brasil (SANB11), que vem entregando rentabilidade crescente e atraindo atenção dos analistas. Alan Cardoso, que já trabalhou por quatro anos no banco, destacou a transformação recente.
“O Mário Leão, atual CEO, tem um estilo de gestão muito diferente do anterior. Ele vem conduzindo bem o plano estratégico para elevar o ROE para a casa dos 20%, com menos dependência do crédito e maior foco em fundos e depósitos.”
Apesar de estar crescendo operacionalmente menos que seus pares, Cardoso vê valor nas ações. “Com o ROE atual e o price-to-book em 1,2, o Santander parece barato. A questão é qual será o gatilho para as ações andarem: pode ser uma melhora na carteira de crédito ou, quem sabe, uma nova tentativa do grupo Santander de fechar o capital da operação brasileira, como já fez em outros países.”
Pedro Gonzaga complementou, lembrando que o grupo espanhol tem histórico de atuação pragmática com suas subsidiárias. “O Santander já fez OPA no Brasil em 2014 para aumentar participação. Hoje, o free float é de cerca de 10%, e no começo deste ano se especulava nova OPA, já que as ações negociavam próximo ao múltiplo daquela época.”
Gonzaga destacou ainda o sucesso do turnaround iniciado antes do Bradesco. “Mesmo com menos receitas de comissões, o banco está com ROE acima de 15%. A gestão atual merece reconhecimento pelo bom trabalho feito.
Nubank impressiona com marca forte e rentabilidade elevada, mas ainda enfrenta desafios
A discussão então avançou para os neobanks, com destaque para o Nubank. Pedro Gonzaga fez uma análise detalhada. “No longo prazo, é admirável o que o Nubank construiu. Começou oferecendo crédito sem garantia a um público ‘subatendido’ e hoje entrega uma rentabilidade consolidada próxima de 30% sobre o patrimônio líquido — no Brasil, esse número é ainda maior.”
Ele destacou também a força da marca e o potencial de monetização futura. “São 100 milhões de clientes no Brasil. A monetização ainda se concentra no crédito, mas há muito espaço para crescer com seguros, cartões e receitas de comissões. A operação brasileira é um case de sucesso, mas o desafio agora é repetir esse desempenho fora do país, especialmente no México e na Colômbia.”
No curto prazo, Gonzaga alertou para um ponto de atenção: o crescimento do crédito. “O banco freou a originação de crédito no fim do ano passado por medo da inadimplência, mas voltou a acelerar. O risco é: se o modelo de concessão de crédito for realmente preciso, isso pode gerar ótimos resultados. Caso contrário, pode haver um repique de inadimplência mais adiante.”
Segundo ele, como o Nubank negocia a múltiplos acima de 20 vezes o lucro, qualquer desaceleração preocupa investidores. “A entrega precisa acompanhar as expectativas para justificar esse valuation elevado.”
Inter evolui em monetização e surpreende com salto de rentabilidade
Na comparação com o Nubank, o Banco Inter (INBR32) aparece com menos glamour, mas com avanços consistentes. “O Inter tem uma monetização mais diversificada: crédito, seguros, asset management, cartões e até o marketplace próprio. O desafio agora é massificar isso e se tornar mais rentável”, afirmou Gonzaga.
Ele observou que o Inter já evoluiu mais do que o mercado previa. “Poucos anos atrás, era um banco deficitário. Hoje, já entrega um retorno sobre patrimônio líquido entre 11% e 15%, o que permite sonhar mais alto. O banco está no meio do caminho para chegar à rentabilidade de 30%.”
Para Gonzaga, o Inter tem espaço para surpreender positivamente. “A trajetória mostra que o plano é viável. Se continuar nessa direção, pode entregar forte crescimento de lucro nos próximos anos.”
Alan Cardoso concordou e reforçou o potencial de ambos os bancos digitais. “São dois modelos distintos, mas que mostram como o setor bancário está mudando. O desafio será manter a disciplina de execução para crescer com rentabilidade.”
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