A trajetória de Carlos Cêra, cofundador e CEO da Superlógica, começa longe do universo das fintechs, dos ERPs e da Faria Lima. Ainda estudante de computação na Unicamp, ele entrou no empreendedorismo quase por obrigação, ajudando no buffet infantil da família, em Campinas.
“Eu não queria ir trabalhar lá, mas precisava. Se a família não trabalhasse, as contas não fechavam”, lembra. O aprendizado, porém, foi definitivo. “Ali eu aprendi duas coisas que levo até hoje: amar servir e resolver problemas.”
Foi também nesse ambiente que Carlos teve o primeiro contato com a sensação que marcaria sua carreira. “Eu vi que podia depender do meu esforço e alcançar um resultado grande. Aquilo me transformou.”
A virada veio com um curso no Sebrae, onde conheceu Lincoln, um ex-executivo do Banco do Brasil que havia se tornado síndico. O problema era a gestão de condomínios, que parecia arcaica, meio travada. A solução, ainda embrionária. Nascia ali a Superlógica, ainda longe de ser o gigante que é hoje.
“A ideia surgiu para resolver o problema dele. Depois, eu entendi que aquilo podia virar um produto escalável”, diz Cêra.
O empresário participou do programa Do Zero ao Topo e explicou a virada estratégica que integrou serviços bancários ao ERP (Enterprise Resource Planning ou Planejamento dos Recursos da Empresa) e a construção de um modelo que reposicionou a empresa como uma potência do mercado condominial.
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Preço de uma grande ideia
O começo, segundo o CEO, não foi nada fácil. Foram dois anos só construindo o software e sem faturar abrindo mão ainda de trabalhar em grandes empresas. Para ele, o domínio da internet foi a primeira vantagem competitiva da empresa. Quando o produto começou a ser vendido, por volta de 2002, a Superlógica era menor e tecnicamente inferior aos concorrentes. Mas tinha um diferencial estratégico.
“Nossos concorrentes nasceram antes da internet. A gente já nasceu dentro dela”, afirma. A empresa passou a vender online, com custo de aquisição muito mais baixo, e apostou em autoatendimento para reduzir despesas das administradoras.
A grande virada veio mais de uma década depois. Em 2012, Carlos assistiu a uma palestra de um ex-colega de faculdade, Bloise, então empreendedor que mais tarde lideraria o iFood. O impacto foi imediato. “A gente percebeu que estava errando em pensar pequeno.”
De volta à empresa, Carlos reuniu o time. Nasciam ali as conversas semanais que forjariam a cultura da Superlógica. “Sem saber, a gente começou a construir um time muito mais forte. Para discutir estratégia junto”
Dois anos depois, surgiu o objetivo que mudaria o jogo. A tese era simples e ousada: se a agência bancária da pessoa física iria para o celular, a da empresa deveria ir para dentro do ERP.
“Para a empresa, o banco faz muito mais sentido dentro do sistema de gestão do que numa agência física”, diz Carlos . A reação do mercado foi dura. “Eu fui ridicularizado por investidores. Como uma empresa pequena ia competir com bancões?”
A virada regulatória
O cenário começou a mudar quando o Banco Central simplificou as regras para licenças financeiras. “Isso viabilizou o surgimento das fintechs. Inclusive a nossa”, lembra Cêra.
Sem conseguir capital na Faria Lima, Carlos buscou alianças estratégicas. Encontrou numa empresa de software bancário, e em um ex-dono de banco, o parceiro ideal.
O resultado foi decisivo. “A gente passou a oferecer serviços bancários praticamente sem custo fixo.” O primeiro produto foi pagamento. “Boleto e Pix são essenciais para condomínios. Oferecer isso de forma mais barata e integrada foi um divisor de águas.”, conta o CEO.
Mais do que receita, a empresa descobriu algo maior: o poder da distribuição. “A gente percebeu que podia distribuir qualquer produto para condomínios via administradoras, com custo de aquisição baixíssimo.”
Nascia o modelo atual da Superlógica: uma plataforma que conecta software, serviços financeiros, crédito e agora hardware e IA. Hoje, a empresa atende cerca de 130 mil condomínios, tem 1.100 funcionários e mira R$ 1 bilhão de receita com 30% de margem EBITDA nos próximos anos.
O próximo ciclo passa pela inteligência artificial. “O mercado de software está em ebulição. E os softwares verticais vão ganhar muito com IA.”
A empresa firmou parceria com a OpenAI. “Eles querem criar um grande case no mercado imobiliário brasileiro”, afirma o CEO.
Para saber mais detalhes da trajetória empreendedora de Carlos Cêra e o mercado condominial, veja o episódio completo no Do Zero ao Topo. O programa está disponível em vídeo no YouTube e em sua versão de podcast nas principais plataformas de streaming como ApplePodcasts, Spotify, Deezer, Spreaker, Castbox e Amazon Music.
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Sobre o Do Zero ao Topo
O podcast Do Zero ao Topo é uma produção do InfoMoney e traz, a cada semana, a história de mulheres e homens de destaque no mercado brasileiro para contar a sua história, compartilhando os maiores desafios enfrentados ao longo do caminho e as principais estratégias usadas na construção do negócio.
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