
O cenário econômico internacional vive uma fase de incertezas, por conta da inflação persistente, juros elevados e tensões geopolíticas que envolvem Estados Unidos, China, Europa, Rússia e Oriente Médio.
Para Armínio Fraga, economista, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, o mundo passa por uma transição em que a hegemonia americana já não é única, abrindo espaço para turbulências políticas e financeiras.
“Eu nunca vi nada igual na minha vida. São muitas coisas grandes acontecendo ao mesmo tempo”, afirmou, ao comentar os efeitos do pós-pandemia, o que incluiu uma grande injeção de liquidez pelos bancos centrais, gerando inflação elevada, além de um ambiente de juros mais altos no longo prazo.
Segundo ele, a desordem global se tornou o elemento central da conjuntura. “Não tem mais ordem global. Esse é um momento caótico, uma transição em que a hegemonia americana não é mais o G1. Agora já é um G2, com a China, e uma Europa tentando se organizar para ficar perto, talvez como um G2,5”, observa.
Para os investidores, o cenário oferece oportunidades, mas também riscos crescentes. “É fascinante para investir, se proteger, arriscar um pouco mais. Mas dá um certo medo também”, completou.
As declarações foram dadas no episódio 171 do Outliers InfoMoney, programa que reúne alguns dos principais nomes do mercado financeiro para discutir teses, oportunidades e desafios da economia global.
O episódio foi conduzido por Clara Sodré, analista de fundos da XP, e Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP.
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Dólar segue dominante, mas diversificação cresce lentamente
Um dos pontos mais discutidos foi o papel do dólar como moeda de reserva global. Fraga considera inevitável que haja uma diversificação gradual, mas não vê substituição rápida.
“É fácil dizer que o dólar vai ser substituído. A questão é quando. Não vai ser algo rápido, porque o dólar tem características que não desaparecem da noite para o dia”
Segundo ele, a China até ensaiou maior abertura, mas recuou após Xi Jinping consolidar o poder. A Europa, por sua vez, enfrenta limitações estruturais.
“Os fluxos têm sido em direção a sair do dólar, mas são lentos. Eu acho que é para ser lento, e não descarto a possibilidade de os americanos voltarem a ser o país do soft power”
Fraga também destacou a posição geográfica privilegiada dos Estados Unidos em comparação à Europa, cercada por vizinhanças instáveis.

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O economista lembrou ainda que a instabilidade política nos EUA, marcada pela volta de Donald Trump ao cenário eleitoral, adiciona imprevisibilidade. “Essa administração é diferente de tudo o que já se viu, inclusive do primeiro mandato do Trump”, comentou.
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