A entrada de Lucas Pit no mercado financeiro começou ainda na escola, quando visitou o pregão da antiga B3 e percebeu que aquele era o ambiente que queria para a própria vida. Desde então, a curiosidade virou obsessão e o interesse pela dinâmica da Bolsa moldou suas escolhas futuras.
Ele conta que, ao ver operadores gritando e disputando ordens no meio do caos organizado do pregão, sentiu algo que nunca havia experimentado. “Eu falei: ‘Cara, eu acho que aqui é um lugar que eu posso ter um pouco mais de adrenalina. Minha vida pode tomar um caminho um pouco mais radical’”, afirma.
No episódio 2 da 4ª temporada do programa Mapa Mental, no canal GainCast, Pit reforçou que essa experiência definiu sua escolha profissional e o deixou obcecado em estudar economia. Além disso, ele relembra que esse período consolidou sua decisão de seguir carreira no mercado financeiro, mesmo sem conhecer outras alternativas.
Ele explica que nunca cogitou outra carreira, porque acreditava que aquele era o caminho para transformar sua realidade financeira. “Eu decidi que eu queria ser economista porque na minha cabeça, para trabalhar no mercado financeiro tinha que ser economista e eu tinha prometido para mim que eu não queria ser pobre nunca”, observa.
Dois anos de backtests antes do primeiro trade
Antes de operar dinheiro real, Pit e seus sócios passaram dois anos inteiros testando estratégias e reconstruindo cenários. Por isso, ele afirma que esse processo, segundo ele, foi fundamental para reduzir erros iniciais e criar disciplina técnica. Ele lembra que não existiam plataformas modernas, tape reading ou execução rápida, o que tornava tudo mais lento e complexo. “A gente ficou dois anos fazendo backtest antes de fazer o primeiro trade”, relata.
Por operar em 2012 e 2013, a equipe ainda precisava telefonar para enviar ordens, com risco de perder preço durante o processo. Além disso, o custo operacional era tão alto que inviabilizava o day trade da época. “Era muito complexo fazer day trade ali em 2012, 2013”, explica.
Diante desse cenário, eles perceberam que as commodities agrícolas ofereciam movimentos mais limpos e previsíveis, o que permitiu transicionar para posições mais longas. Como resultado, esse ajuste de horizonte, conforme Pit, trouxe consistência e alívio operacional. “A gente percebeu que milho e commodities agrícolas em geral seguiam tendências mais longas. Quanto mais a gente ficava numa tendência, mais dinheiro a gente ganhava”, conclui.
O Joesley Day e a perda que mudou tudo
A virada na carreira veio em 2017, no dia do Joesley Day, quando o mercado abriu em forte estresse e suas posições altamente alavancadas sofreram impacto imediato. Naquele momento, o choque, segundo ele, foi tão rápido que nem houve tempo de reagir. Pit recorda que, ao atualizar a tela, percebeu um prejuízo muito maior do que conseguia suportar emocionalmente. “Eu perdi R$150.000 em 1 minuto”, relata.
O valor equivalia praticamente à sua garantia operacional. Sem alternativa, precisou vender o carro e pedir dinheiro ao pai para manter as posições enquanto tentava recuperar parte do estrago. “Eu tive que vender meu carro com deságio, para pagar e tive que pedir R$30.000 emprestado pro meu pai”, explica.
A situação o forçou a reavaliar a própria relação com o risco, o dinheiro e o mercado. Embora fosse doloroso, ele admite que estava emocionalmente esgotado e preso a um ciclo de exposição crescente. “Eu falei: ‘Quando eu recuperar esses R$150.000, eu vou para um jogo que não é soma zero’”, afirma.
A armadilha da alavancagem e o peso do excesso de confiança
Antes do colapso, Pit vinha de uma sequência de acertos que aumentou sua confiança — e, consequentemente, sua exposição. Assim, ele afirma que esse excesso distorceu sua percepção de risco e o afastou do racional. Ele afirma que passou a reinvestir todos os lucros em novas alavancagens, criando uma espiral que o deixou vulnerável a um evento brusco como o Joesley Day. “Eu percebi que eu estava alavancado umas 17 ou 20 vezes o meu patrimônio”, observa.
Com o tempo, Pit reconhece que perdeu o propósito original e se deixou conduzir pela recompensa financeira. “Eu não gosto mais de fazer trade. Eu gosto do dinheiro que o trade me dava”, admite.
Foi também nesse período que registrou na parede de casa a frase que se tornaria um marco pessoal: “Ganância envolve atalho e ambição envolve trabalho. “Eu não estava sendo ambicioso, eu estava sendo ganancioso”, conclui.
A virada para a educação financeira
Depois de um ano e um mês de esforço, Pit finalmente recuperou os R$150 mil. A partir disso, cumprir essa meta representou o encerramento simbólico e emocional de um ciclo de desgaste. No mesmo dia, cumpriu a promessa e deixou o mercado futuro. “Eu liguei na corretora e falei: ‘Zera tudo, vou por outro caminho’”, lembra.
Esse novo caminho foi a educação financeira. Ainda assim, a transição, porém, exigiu paciência e disciplina, elementos que ele ainda estava aprendendo a cultivar. Ele passou dez meses produzindo vídeos diariamente para o YouTube sem retorno financeiro, aprendendo a editar e criando sozinho o estilo direto que o tornaria reconhecido. “Demorou 10 meses para eu ganhar o meu primeiro real no YouTube”, explica.
Mesmo assim, não pensou em desistir, acreditando que estava finalmente num ambiente de ganha-ganha. Assim sendo, ensinar se tornou uma forma mais equilibrada de transformar experiência em valor. “Eu ganho para ensinar, o cara aprende e ele também ganha dinheiro”, conclui.
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