Em um movimento histórico que sinaliza uma mudança definitiva na forma como grandes conglomerados de mídia encaram a inteligência artificial (IA), a OpenAI (dona do ChatGPT) passou de empresa cujas ferramentas geravam princesas da Disney não autorizadas para uma parceria de US$ 1 bilhão com a própria casa do Mickey.
O CEO da Disney, Bob Iger, detalhou o acordo ao lado do CEO da OpenAI, Sam Altman, em uma entrevista de TV ao programa Squawk on the Street, da CNBC, explicando que “preferimos participar desse crescimento bastante drástico, em vez de apenas assistir a ele acontecer e, essencialmente, sermos desestabilizados por ele”.
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Ele também reformulou o debate sobre como a IA está remodelando o entretenimento, os negócios e até o próprio trabalho: “Alguém uma vez me disse que criatividade é a nova produtividade, e acho que estamos começando a ver isso cada vez mais”.
O acordo, que leva a propriedade intelectual da Disney para a plataforma de geração de vídeo da OpenAI, a Sora, foi estruturado para equilibrar uma proteção “agressiva” da propriedade intelectual com a disposição de abraçar a inevitável disrupção tecnológica, disse Iger.
Pelos termos do contrato de três anos, a Disney licenciará aproximadamente 200 personagens para uso na Sora, permitindo que usuários criem vídeos curtos com figuras icônicas que vão de Mickey Mouse a personagens de Star Wars.
Iger apresentou a parceria não como uma concessão à IA, mas como uma evolução necessária — e que, na prática, é positiva para os artistas humanos. Isso porque o acordo não inclui nome e imagem, nem vozes dos personagens.
“E, portanto, na realidade, isso não representa de forma alguma uma ameaça aos criadores; na verdade, é o oposto. Acho que isso os honra e respeita, em parte porque há uma taxa de licenciamento associada”, afirmou.
Iger ressaltou repetidamente que a Disney quer estar na vanguarda de como a tecnologia reinventa o entretenimento. “Nenhuma geração humana jamais ficou no caminho do avanço tecnológico, e não pretendemos tentar.”
A parceria contrasta fortemente com o relacionamento da Disney com outros gigantes de tecnologia. No mesmo dia em que o acordo com a OpenAI foi anunciado, a Disney enviou uma notificação extrajudicial ao Google por suposto uso indevido de propriedade intelectual.
Iger explicou a diferença de abordagem observando que, diferentemente do Google, a OpenAI concordou em “honrar, valorizar e respeitar” o conteúdo da Disney por meio de uma taxa de licenciamento e de salvaguardas de segurança.
“Temos sido agressivos na proteção da nossa propriedade intelectual e fomos atrás de outras empresas que não honraram isso”, disse Iger, acrescentando que as conversas com o Google não conseguiram “dar frutos”.
Uma parceria em que todos ganham?
Para a OpenAI, supostamente sob pressão do próprio Google — cujo Gemini 3 foi elogiado por referências do setor de IA, como o bilionário da Salesforce Marc Benioff —, o acordo representa uma validação de sua tecnologia de vídeo generativo.
Altman disse à CNBC que a demanda dos usuários por personagens da Disney estava “meio que fora da escala” e imaginou um futuro em que fãs possam gerar conteúdo personalizado, como um “vídeo de aniversário personalizado do Buzz Lightyear” ou uma cena de sabre de luz sob medida.
Altman argumentou que a parceria vai liberar a “criatividade latente” do público em geral ao reduzir a habilidade e o esforço necessários para transformar ideias em realidade.
A colaboração também se estenderá à própria plataforma de streaming da Disney. Iger revelou planos de integrar “conteúdo gerado pela Sora a partir de comandos dos usuários” diretamente ao Disney+.
Ele disse especificamente que a Disney “quer há muito tempo ter o que chamaremos de conteúdo gerado pelo usuário em nossa plataforma”, sugerindo que a parceria é um movimento defensivo em relação ao gigante do streaming YouTube e ao epicentro das redes sociais TikTok, que está parcialmente sob o controle da família Ellison, que também controla a rival do entretenimento Paramount.
O acordo inclui warrants (títulos que permitem compra de ações no futuro) não divulgados, dando à Disney uma participação financeira no sucesso da OpenAI. Iger confirmou a existência dos warrants e se recusou a fornecer mais detalhes.
Ele comparou essa abordagem voltada para o futuro à decisão da Disney, em 2005, de licenciar programas para o iTunes, vendo a parceria com a OpenAI como o equivalente moderno de surfar uma “onda profunda” de mudança social.
Iger revelou que as bases do acordo foram lançadas há vários anos, dizendo que conheceu Altman pela primeira vez em 2022, quando estava aposentado da Disney, antes de seu retorno como CEO.
Altman deu a Iger “uma espécie de roteiro” sobre para onde a OpenAI estava indo, e a Disney ficou “extremamente impressionada” com o crescimento da empresa desde então, com todas as previsões feitas por Altman em 2022 se concretizando muito mais rápido do que qualquer uma das partes imaginava.
Iger acrescentou que a Disney vê grandes oportunidades para licenciar outros produtos da OpenAI nos próximos anos, o que ele considera um impulso enorme para “basicamente fazer muito do que sentimos que precisamos realizar nos próximos anos”.
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