O Departamento de Justiça dos Estados Unidos liberou arquivos de investigações sobre o notório criminoso sexual Jeffrey Epstein, resultado de uma pressão que teve repercussões para líderes empresariais e políticos proeminentes, incluindo o presidente Donald Trump.
A divulgação ocorreu após o Congresso aprovar em novembro, por ampla maioria, uma legislação que obrigava o departamento a tornar os arquivos públicos. Trump resistiu por muito tempo, mas acabou cedendo e assinou o projeto de lei diante da pressão de parlamentares republicanos.
A lei exigia a liberação de registros investigativos, registros de voos, documentos de viagens, acordos de imunidade, comunicações internas do departamento e papéis relacionados à morte de Epstein em 2019. No entanto, a medida também inclui proteções para as vítimas e permite exceções para investigações em andamento.
O vice-procurador-geral Todd Blanche afirmou na sexta-feira, em entrevista à Fox News, que os oficiais estão revisando os arquivos para garantir a proteção das vítimas e que espera que mais documentos sejam liberados nas próximas semanas.
Na sexta-feira, o site colocou os usuários em uma fila antes de permitir o acesso ao material, sinalizando o grande interesse nos documentos.
O Departamento de Justiça incluiu uma ferramenta de busca, mas reconheceu que seu uso é limitado, explicando que “devido a limitações técnicas e ao formato de certos materiais (por exemplo, textos manuscritos), partes desses documentos podem não ser pesquisáveis eletronicamente ou podem gerar resultados de busca pouco confiáveis.” Os materiais liberados na sexta-feira incluíam redacções e múltiplos conjuntos de dados.
Um dos lotes continha uma foto do ex-presidente Bill Clinton e do falecido músico Michael Jackson.
A publicação dos documentos cria a possibilidade de mais um problema político para Trump, que já enfrenta insatisfação dos eleitores em relação à sua gestão da economia.
O caso Epstein tem sido um fardo para Trump há muito tempo.
Muitos aliados do presidente têm se fixado em Epstein, exigindo maior transparência do governo federal, enquanto teorias da conspiração circulam sobre seus associados na política, nos negócios e na academia, bem como sobre as circunstâncias de sua morte. Epstein, condenado por crimes sexuais, enfrentava acusações federais de tráfico de meninas menores de idade quando morreu na prisão em 2019. As autoridades consideraram a morte um suicídio.
Trump, 79 anos, foi amigo de Epstein, mas afirma que cortou relações com ele há cerca de duas décadas e que desconhecia seus crimes sexuais.
Como candidato, Trump prometeu liberar arquivos relacionados a Epstein. Em fevereiro, o Departamento de Justiça divulgou um primeiro lote de documentos que já eram amplamente públicos. Em julho, o departamento e o FBI afirmaram que não seriam necessárias ou apropriadas novas divulgações, o que provocou reação furiosa entre muitos apoiadores do presidente. Trump reclamou no verão que a situação era uma “farsa” criada pelos democratas para prejudicar sua presidência.
A longa disputa sobre os arquivos causou divisões na base de Trump e entre os republicanos no Congresso. Isso fez com que Trump, em alguns momentos, tivesse dificuldades para controlar a narrativa política e buscasse formas de desviar a atenção da controvérsia. Ele rompeu publicamente com a deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, retirando seu apoio à conhecida parlamentar do Partido Republicano que já foi uma de suas maiores apoiadoras.
Um comitê do Congresso já publicou cerca de 20 mil páginas de e-mails e outros documentos. Entre eles, há uma mensagem em que Epstein parece sugerir que Trump tinha conhecimento de sua conduta. Epstein teria alegado em 2011 que Trump passou tempo em uma casa com uma das vítimas do criminoso sexual e sugeriu que o futuro presidente estava ciente de suas atividades.
“Quero que você perceba que aquele cachorro que não latiu é o Trump”, escreveu Epstein no e-mail. Ele continuou dizendo que uma vítima “passou horas na minha casa com ele” e que “ele nunca foi mencionado uma vez”. A divulgação não identificou diretamente a quem Epstein se referia.
A Casa Branca acusou parlamentares democratas de “liberar seletivamente” esses e-mails para difamar Trump e chamou de farsa as tentativas de ligar o presidente aos crimes de Epstein. Trump também solicitou que o Departamento de Justiça investigasse as ligações de Epstein com vários democratas de destaque, incluindo Clinton, o ex-secretário do Tesouro Larry Summers e o megadonor democrata Reid Hoffman.
Jay Clayton, procurador dos EUA para o Distrito Sul de Nova York, foi escolhido para liderar a investigação. Críticos questionam se a apuração permitirá que a administração recuse a liberação de alguns documentos.
Clinton negou conhecimento dos crimes de Epstein. Summers disse que lamentava sua relação com o financista desonrado e que se afastaria de compromissos públicos, incluindo seu papel como colaborador pago da Bloomberg Television, conforme confirmou um porta-voz da Bloomberg News.
Hoffman também expressou arrependimento pela associação com Epstein, mas afirmou que suas relações não passaram de arrecadação de fundos para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Andrew Mountbatten Windsor, irmão do rei Charles III, foi recentemente destituído do título de príncipe e expulso de sua residência real devido às suas ligações com Epstein. Andrew negou as acusações de uma das vítimas de Epstein, Virginia Giuffre, de que ela foi forçada a ter encontros sexuais com ele. Giuffre morreu por suicídio em abril, segundo informou sua família.
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