A evolução do mercado de day trade no Brasil tem exposto uma diferença cada vez mais clara entre quem opera por impulso e quem busca profissionalização.
Nesse cenário, para Roberto Indech, Head de Relações Institucionais de Renda Variável da XP Inc., a maturidade operacional começa antes mesmo de abrir o gráfico: nasce na mentalidade, na estrutura mínima e no entendimento de que o trader é, acima de tudo, um profissional que depende de processos, disciplina e suporte adequado.
Dessa forma, Roberto Indech concedeu uma entrevista ao InfoMoney durante o evento Profit Summit, detalhando os pilares que, segundo ele, sustentam a jornada rumo à profissionalização e que diferenciam o trader amador daquele que constrói carreira no mercado. “A gente tem trazido essa ideia de profissionalismo”, afirma.
Infraestrutura e disciplina diária
Segundo Indech, a profissionalização começa pela base estrutural. Contudo, ele destaca que muitos traders ignoram requisitos mínimos e tentam compensar lacunas operando mais, enquanto deveriam operar melhor.
Ainda assim, uma infraestrutura adequada não se resume só a equipamentos: envolve rotina, estudo, repetição e mentalidade alinhada ao longo prazo. Além disso, ele reforça que a busca por adrenalina, comum entre iniciantes, costuma ser um dos maiores inimigos da consistência.
“O principal de todos os aspectos é a mentalidade. Hoje você conversa com os traders de uma maneira geral e eles estão muito mais pela adrenalina do que pelo ganhar dinheiro”, alerta.
“Esse aspecto é muito importante e muito relevante para qualquer pessoa que quer se tornar um trader de fato, ele precisa ter uma infraestrutura básica. Eu acho que é uma concentração mínima com um computador de primeiro nível e internet de primeiro nível”, observa.
Por isso, Indech sustenta que o trader precisa encarar o dia de mercado como um processo profissional, não como entretenimento. Dessa forma, estudo diário, análise de replay e preparação constante tornam-se ferramentas essenciais para evolução técnica.
“Que seja uma pessoa que estude algumas horas por dia no mercado fechado, que faça testes no replay com dias anteriores. Para ser um bom profissional, você precisa se dedicar. O trader não é diferente”, afirma.
Corretora confiável como pilar operacional
Além da estrutura individual, Indech ressalta que a relação com a corretora tem peso direto no operacional diário. Isso ocorre porque traders dependem de estabilidade, respostas rápidas, atendimento especializado e ferramentas preparadas para ambientes de alta volatilidade.
Nesse sentido, ele afirma que uma plataforma robusta reduz riscos desnecessários e amplia a capacidade de execução com consistência ao longo do tempo.
Dessa forma, o trader profissional precisa enxergar a corretora não apenas como um intermediário, mas como parte ativa de seu ecossistema operacional. A presença de analistas, profissionais regulamentados e influenciadores experientes, segundo ele, amplia repertório e reduz vieses.
“Você ter a confiabilidade de uma corretora que te ofereça uma infraestrutura de ponta é essencial para que você consiga também gerar bons resultados com consistência ao longo do tempo. Requisitos mínimos necessários e confiabilidade”, observa.
Função estratégica da assessoria trader
Ao avançar sobre o papel da assessoria especializada, Indech enfatiza que muitos amadores subestimam a importância de ter um profissional pronto para atuar em momentos críticos.
Isso porque o trader, diferente do investidor tradicional, lida com risco imediato, posições alavancadas e tomada de decisão em segundos. “Um trader profissional, ele não negligencia o papel de um assessor trader”, ressalta.
Portanto, quando um imprevisto acontece — como queda de energia ou perda de conexão —, é a assessoria que garante segurança operacional. “Porque você está operando na sua casa e acabou a luz. Como é que você faz?”, questiona.
Além disso, ele reforça que essa relação não é de uso diário, mas de alta relevância nos momentos decisivos. Por esse motivo, traders que buscam profissionalização precisam estabelecer vínculo com assessores qualificados, preparados para atender rapidamente.
“Quando você precisar, você tem que ser atendido rapidamente e com uma qualificação de ponta”, explica.
Pilares que diferenciam o trader profissional
Indech destaca que a principal fronteira entre o amador e o profissional está na mentalidade. Entretanto, ele observa que outros elementos são igualmente decisivos, como o gerenciamento de risco, a previsibilidade de resultados e a capacidade de evitar dias de fúria.
Embora traders profissionais também enfrentam perdas, eles conseguem mantê-las sob controle, evitando comportamentos impulsivos que destroem capital.
Além disso, a maturidade emocional faz com que o trader profissional trate o mercado como carreira, não como passatempo. Assim, há mais disciplina, responsabilidade e preservação de capital ao longo do tempo.
“A começar pela mentalidade o trader profissional, ele tem um gerenciamento de risco muito mais apurado. Na grande maioria dos dias, ele não tem o dia de fúria”, conclui.
Automação não é condição para ser profissional
Apesar do avanço dos robôs e da popularização das estratégias automatizadas, Indech pondera que a automação não é uma exigência para quem deseja se profissionalizar no day trade.
Embora reconheça que alguns traders seguem esse caminho, especialmente os com formação estatística, matemática ou quantitativa, ele observa que muitos profissionais de destaque constroem performance exclusivamente na leitura de tela. “Eu não vejo muito no perfil do trader profissional usando automação”, afirma.
Além disso, ele diferencia o uso da automação para trading profissional do uso voltado para alocação de investimentos, onde vê maior aderência. Dessa forma, entende que a automação é um complemento possível, mas não obrigatório.
“Eu acho que a automação tem um campo muito maior, que é trazer muito mais para o lado da alocação de investimentos”, explica.
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