Os juros elevados e crédito mais restrito ao longo de 2025 acabaram impulsionando o sistema de consórcios. Entre janeiro e novembro, a modalidade alcançou volume financeiro de R$ 467 bilhões, um crescimento de 31,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado pela venda de 4,78 milhões de cotas, segundo os últimos dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).
O avanço reflete uma mudança estrutural no comportamento do consumidor, segundo especialistas. Nos últimos 11 meses, o número de participantes ativos chegou a 12,74 milhões, alta de 13,5% na comparação anual, e os créditos concedidos aos consorciados contemplados somaram R$ 112,55 bilhões.
De acordo com a entidade, o valor representa uma injeção substancial de recursos em diversos setores da economia – como veículos, imóveis, agronegócio, bens duráveis e serviços – e principalmente consolida o sistema de consórcio como uma engrenagem relevante para toda a economia brasileira.
Pelo lado do consumidor, a modalidade também ganha força como um instrumento de organização financeira em um cenário de restrições, se tornando uma espécie de “boleto do bem”. “Muita gente tem dificuldade em poupar, e o consórcio surge como uma solução prática de um compromisso mensal, que transforma disciplina em conquista. Quem se planeja paga mais barato”, afirma Warley Ferreira, líder comercial de consórcios da consultoria financeira Blue3 Investimentos.
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Na avaliação do especialista, a modalidade atua como um verdadeiro treinamento financeiro, estimulando o hábito de poupar com objetivo definido e evitar compras por impulso, mantendo o foco no longo prazo. “Em um país historicamente marcado pelo endividamento caro e pelo consumo imediato, o consórcio se apresenta como uma ferramenta concreta para organizar o orçamento e construir patrimônio de forma previsível”, disse Ferreira.
Para o presidente executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi, ao final dos 11 meses deste ano, o crescimento do sistema só confirma a tendência que já vem de anos anteriores e a confiança que o consumidor tem no mecanismo. “O brasileiro vem aderindo por começar a entender a essência da educação financeira. O crescimento é o resultado desse amadurecimento do planejamento das finanças pessoais, incluindo o consórcio como opção para aquisição de bens ou contratação de serviços”, disse.

Alternativa ao crédito
Na prática, desde que foi criado por funcionários do Banco do Brasil nos anos 1960, o consórcio sempre foi uma alternativa à compra imediata financiada, sobretudo em ambientes econômicos difíceis, como nos anos de hiperinflação e agora com a taxa Selic permanecendo em 15%.
O grande atrativo é que, diferentemente do financiamento tradicional, a modalidade não cobra juros, apenas uma taxa de administração diluída ao longo do prazo, preservando o poder de compra do crédito e dispensando a incidência de IOF. Segundo a assessoria econômica da Abac, esses fatores explicam por que, mesmo em cenários distintos de política monetária ao longo dos anos, o crescimento do setor se manteve relativamente independente.
Automóveis
O setor automotivo segue como o principal destino dos consorciados. De janeiro a novembro, o consórcio respondeu potencialmente por cerca de um a cada três veículos leves vendidos no país e por uma a cada três motocicletas comercializadas no mercado interno. No segmento de veículos pesados, especialmente caminhões, a participação estimada foi de um a cada quatro vendidos, com forte presença também no agronegócio, por meio das máquinas agrícolas.
Imóveis
Já no mercado imobiliário, as contemplações representaram aproximadamente 24% dos imóveis financiados no período, incluindo recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE ) – principal mecanismo de financiamento imobiliário no Brasil, e dos consórcios.
O novo perfil do consorciado ajuda a explicar a diversificação desse negócio, especialmente no segmento de imóveis, que registrou crescimento de 36,2% nas vendas de cotas e avanço de quase 50% nos negócios realizados em 2025, conforme dados da Abac.
Jovens profissionais, empreendedores e investidores passaram a utilizar a modalidade não apenas para adquirir a casa própria, mas também como estratégia de formação e alavancagem patrimonial, muitas vezes combinando o consórcio com o uso do FGTS para lances, quitação ou complementação de crédito, de acordo com a entidade.
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Outros setores
Nos segmentos de eletroeletrônicos, bens duráveis e serviços, o crescimento também foi expressivo, com altas superiores a 100% no volume de negócios em alguns casos, mostrando que o consórcio não está restrito aos grandes bens, passando a integrar o planejamento financeiro de diferentes perfis de consumo.
Ao final de 11 meses, o sistema soma ativos administrados de R$ 719 bilhões, o equivalente a 6,1% do PIB brasileiro de 2024, além de um patrimônio líquido ajustado de R$ 20,9 bilhões, o que reforça a segurança do setor, segundo Abac. Mais do que números recordes, o desempenho de 2025 confirma uma tendência de que, diante de crédito caro e maior consciência financeira, o brasileiro tem optado por planejar antes de comprar. E a expectativa é de que isso continua no próximo ano.
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