Até poucas semanas atrás, os donos de salas de cinema americanos teriam muito pouco para se preocupar com a Warner Bros Discovery. Sete das 20 maiores bilheterias do ano no mercado doméstico dos Estados Unidos foram produzidas pelo conglomerado de mídia, representando 37% do total arrecadado pela venda de ingressos nesta lista de principais lançamentos do país.
Mas agora eles estão preocupados. No início de dezembro, o centenário estúdio de Hollywood se tornou o protagonista do negócio mais emblemático que a indústria presenciou na última década após a Netflix (NFLX34) anunciar um acordo de US$ 72 bilhões pela compra da Warner. Seria a primeira vez que um serviço de streaming compra uma das veteranas do setor.
Apenas um lançamento do serviço de streaming esteve entre as 200 maiores bilheterias domésticas dos Estados Unidos em 2025 até aqui. O musical “KPop Demon Hunters” ocupa a 65ª posição no ranking da plataforma Box Office Mojo, com US$ 23,3 milhões arrecadados em bilheteria. Por outro lado, a Warner foi a produtora mais presente no topo da lista de lançamentos, seguida pela Disney (DISB34), com seis filmes.
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Em uma videoconferência logo após o anúncio da intenção de aquisição, o CEO da Netflix, Ted Sarandos, disse que a empresa pretendia manter “tudo que está planejado para sair nos cinemas pela Warner”. Mas e depois?
Sarandos nunca escondeu sua visão sobre o modelo de distribuição via salas de cinema. Em um painel no evento Time100 Summit, o peso-pesado da indústria de tecnologia e cinema tratou como “ultrapassado” o conceito de cinema que “as pessoas cresceram pensando”: fazer filmes em uma tela gigantesca, em cartaz por dois meses, assistidos por estranhos em sessões com “pessoas chorando e sessões esgotadas”.
Quando um filme vai aos cinemas americanos, cerca de metade do valor dos ingressos fica com os exibidores (a parte que vai para os produtores costuma ser maior em grandes eventos cinematográficos). Ao todo, as sete produções da Warner entre as 20 maiores bilheterias do ano atingiram uma bilheteria total de US$ 1,71 bilhão. Os cálculos foram feitos pelo InfoMoney com base em dados da plataforma Box Office Mojo.
Michael O’Leary, presidente e CEO da Cinema United, organização comercial que representa mais de 31 mil salas de cinema dos Estados Unidos e Canadá, tratou a potencial aquisição como “uma ameaça sem precedentes para o setor de exibição cinematográfica global” à CBC.
“Um Filme Minecraft”, adaptação aos cinemas do jogo de videogame popular entre o público infantil produzido pela Warner, foi a maior bilheteria do ano em 2025 até o meio de dezembro, com cerca de US$ 424 milhões. No terceiro lugar está “Superman”, importante propriedade intelectual do universo dos quadrinhos DC Comics sob o guarda-chuva da produtora, com uma bilheteria de US$ 354 milhões.
Além de propriedades intelectuais bilionárias, como os heróis da DC Comics ou a franquia Harry Potter, a Netflix levaria na aquisição da Warner um dos estúdios mais premiados da história dos Estados Unidos. “Pecadores”, um original dirigido por Ryan Coogler e lançado em 2025, foi a sexta maior bilheteria doméstica americana; o filme desponta como um dos queridinhos às premiações do Oscar.
Desde o anúncio do acordo entre Netflix e Warner, no entanto, Sarandos mudou o tom. No primeiro momento, o CEO disse que sua principal objeção era contra as janelas de exclusividade garantidas por produtoras aos exibidores — período pelo qual os filmes passam apenas nos cinemas até serem lançados em mídia física ou streamings.
Ele adotou uma postura ainda mais amena em um evento organizado pelo Canal+ Group em Paris na última terça-feira (16), ao se comprometer a seguir lançando os filmes da Warner nos cinemas seguindo as janelas tradicionais de exibição. Desde a pandemia de Covid-19, essa janela encolheu de cerca de 45 dias para 30 dias, diz uma reportagem publicada pelo The Los Angeles Times em abril deste ano.
A entrada da Paramount Skydance no jogo ao fazer uma oferta hostil de US$ 108,4 bilhões por todos os ativos da Warner Bros Discovery, em um primeiro momento, poderia ser lida como um negócio mais amigável aos exibidores. Trata-se de outro tradicional estúdio de Hollywood cujo negócio principal não é centrado em tecnologia e vídeo sob demanda.
Neste ano, a Paramount emplacou apenas um filme entre as 20 maiores bilheterias domésticas dos EUA, “Missão Impossível: O Acerto Final”. A empresa é o resultado de uma recente fusão entre a Skydance de David Ellison, filho do bilionário fundador da Oracle, Larry Ellison, e o tradicional estúdio.
Mas na última quarta-feira (16), o conselho de administração da Warner Bros Discovery rejeitou o negócio. Em uma carta aos acionistas, conselheiros disseram que a Paramount havia “enganado consistentemente” os acionistas da Warner Bros afirmando que a oferta de US$ 30 por ação, em dinheiro, seria garantida pela família Ellison.
A proposta feita pela Paramount incluía não apenas os braços lucrativos da Warner — seus estúdios, a HBO e o streaming HBO Max, mas também o braço de televisão linear, onde estão canais como TNT Sports e CNN. Essas duas divisões sofreram uma cisão recentemente, justamente para facilitar a busca por investidores, como explicou o InfoMoney em reportagem de junho deste ano. A Netflix ofereceu US$ 27,75 por ação, em um negócio envolvendo apenas os melhores ativos da companhia.
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