O terremoto que atingiu Araxá (MG), a cerca de 360 quilômetros de Belo Horizonte, na noite desta sexta-feira (12), às 22h10, gerou curiosidade e dúvidas sobre por que eventos sísmicos ocorrem em uma região considerada geologicamente estável.
O Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo) afirma que esta não é a primeira vez que o munícipio registra tremores.
Com magnitude inicialmente estimada em 4.4 e consolidada em 4.29 na escala Richter, o terremoto aconteceu a uma profundidade rasa de 7,12 quilômetros, segundo informações da prefeitura de Araxá.
Essa característica, conhecida como terremoto raso, faz com que as ondas sísmicas cheguem à superfície com mais força, intensificando a percepção do abalo.
“Terremotos rasos tendem a ser mais perigosos do que os profundos, justamente porque a energia não se dissipa tanto antes de atingir a superfície”, explica o geólogo Maurício Carneiro, mestre em mineralogia e petrologia e doutor em geoquímica e geotectônica.
O epicentro foi localizado próximo à MG-428, nas imediações do rio Araguari, entre Araxá e Sacramento. A área abriga antigas falhas geológicas, onde o deslocamento de rochas na crosta terrestre libera energia acumulada, gerando o tremor.
O que provoca terremotos no Brasil?
Segundo o Centro de Sismologia da USP, ao contrário do senso comum, sismos no Brasil são relativamente frequentes.
“Tremores com magnitudes entre 2 e 3 ocorrem praticamente todas as semanas em alguma região do país. Eventos um pouco mais fortes, como este de magnitude 3,9, são menoscomuns, ocorrendo em média cerca de duas vezes por ano no território brasileiro”, disse em nota.
A região de Araxá, assim como grande parte do estado de Minas Gerais, apresenta histórico de atividade sísmica. O último tremor registrado anteriormente na região ocorreu em 15 de dezembro de 2024, com magnitude 3,1 mR, segundo o centro.
“Em geral, sismos dessa magnitude ão causam danos estruturais, embora possam ser sentidos pela população local e gerar incômodo ou preocupação momentânea.”
Carneiro afirma que Araxá repousa sobre uma plataforma continental antiga, com rochas de mais de 600 milhões de anos e falhas geológicas, onde pode ter ocorrido o deslocamento de rochas no interior da crosta terrestre, provocando a liberação de energia sísmica.
Segundo o especialista, quando ocorre a liberação súbita dessa energia, as ondas sísmicas se propagam rapidamente a partir do foco do terremoto, alcançando a superfície.
“A magnitude próxima de 4 representa uma liberação muito significativa de energia sísmica, equivalente a cerca de 100 toneladas de explosivos. Um abalo dessa intensidade deve ser considerado forte para os padrões da região, mesmo que, em áreas mais sísmicas do planeta, eventos semelhantes sejam tratados como de menor impacto”, afirma.
Qual é a conexão com mineração e barragens?
Araxá está inserida em uma região marcada por intrusões alcalinas ocorridas há cerca de 60 milhões de anos, responsáveis pela formação de metais, como o nióbio e as terras raras. Mas Carneiro descarta relação com a mineração.
Sobre barragens, ele alerta que estruturas próximas ao foco podem ser afetadas, dependendo da intensidade.
“As barragens da região são monitoradas continuamente, especialmente após os desastres ocorridos em Minas Gerais nos últimos anos. Para que houvesse algum dano relevante, o foco do terremoto precisaria estar muito próximo da estrutura”, diz.
The post Por que Araxá tremeu? Especialista explica causas do terremoto no interior de MG appeared first on InfoMoney.
