Julgamento de Bolsonaro: veja destaques do primeiro dia

Supremo Tribunal Federal (STF) Ă© a mais alta Corte da Justiça brasileira (Foto: Marcello Casal Jr./AgĂȘncia Brasil)

O primeiro dia de julgamento da denĂșncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 terminou sem a votação do recebimento ou nĂŁo da denĂșncia. As sessĂ”es da manhĂŁ e da tarde foram dedicadas Ă  apresentação das defesas pelos advogados dos denunciados, seguidas pela rejeição de todas as preliminares levantadas pelas defesas.

A anålise dessas questÔes processuais, que constituiu a etapa inicial do julgamento, teve como foco as objeçÔes das defesas sobre supostos vícios formais no andamento da investigação, incluindo questionamentos sobre a validade da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Agora, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para a segunda etapa do julgamento, que serĂĄ decidida nesta quarta-feira (26). Veja os principais pontos desta primeira sessĂŁo:

Delação de Mauro Cid

Entre os pontos mais debatidos, a validade da delação premiada de Mauro Cid foi central. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tem sido apontado como peça-chave na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado. As defesas dos acusados questionaram a legalidade do acordo de delação, alegando que Cid teria sido pressionado pela Polícia Federal a colaborar com as investigaçÔes.

O ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, refutou essas alegaçÔes, ressaltando que, em diversas ocasiÔes, ficou claro que Mauro Cid firmou o acordo de colaboração de forma voluntåria e com a garantia de que sua colaboração seria legítima. Ele afirmou que o ex-ajudante de ordens contribuiu de maneira consciente e espontùnea para as investigaçÔes.

O ministro Luiz Fux, embora tenha votado contra a anulação da delação, fez uma ponderação importante, destacando que a delação premiada é um procedimento sério e que o colaborador cometeu algumas omissÔes em seu depoimento. Fux expressou interesse em acompanhar a oitiva do delator em juízo, no momento adequado do processo.

Suspeição dos ministros

As defesas dos acusados também pediram a suspeição dos ministros Alexandre de Moraes, Flåvio Dino e Cristiano Zanin, alegando que estes não seriam imparciais para julgar o caso. A suspeição foi uma das questÔes processuais levantadas, tentando impedir que esses ministros participassem da votação.

No entanto, o plenĂĄrio do STF rejeitou a suspeição de forma unĂąnime, com os ministros argumentando que a controvĂ©rsia jĂĄ havia sido resolvida anteriormente, em uma sessĂŁo extraordinĂĄria convocada pela presidĂȘncia da Corte na semana passada.

Durante a sessĂŁo, os ministros Luiz Fux e CĂĄrmen LĂșcia aproveitaram para fazer elogios pĂșblicos Ă  atuação de Moraes. Fux, em particular, afirmou que o ministro Moraes agiu com total competĂȘncia e imparcialidade.

“O ministro comportou-se exatamente no sentido que Ă© dever de todo juiz em qualquer lugar do mundo: atuar com imparcialidade para a garantia dos direitos das partes”, destacou CĂĄrmen LĂșcia.

CompetĂȘncia do STF

Outro ponto importante discutido foi a competĂȘncia do STF para processar e julgar o caso. As defesas argumentaram que os acusados, em sua maioria, nĂŁo possuem mais foro privilegiado e, por isso, o processo deveria ser analisado pela primeira instĂąncia.

No entanto, o ministro Alexandre de Moraes refutou essa alegação, lembrando que o Supremo jĂĄ consolidou sua competĂȘncia para processar e julgar açÔes relacionadas aos atos de 8 de Janeiro de 2023.

Moraes enfatizou que a Corte jĂĄ havia reafirmado sua competĂȘncia para julgar esses casos em 1.494 açÔes e que os acusados, Ă  Ă©poca dos fatos, ainda estavam no exercĂ­cio de cargos com prerrogativa de foro. Ele tambĂ©m destacou que, em julgamentos anteriores, o STF jĂĄ ampliou o alcance do foro privilegiado para incluir autoridades e polĂ­ticos, mesmo apĂłs a saĂ­da do cargo, em casos envolvendo crimes funcionais.

“NĂŁo Ă© algo novo. O Supremo jĂĄ confirmou sua competĂȘncia para todos os crimes relacionados ao dia 8 de Janeiro de 2023”, rebateu Moraes.

Pedido de julgamento no plenĂĄrio

Os denunciados também pediram que o julgamento fosse realizado no plenårio do STF, com todos os ministros, e não na Primeira Turma.

A defesa de um dos acusados, o almirante Garnier Santos, argumentou que a denĂșncia apresentada pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) era contraditĂłria e baseada em “mentiras” da PolĂ­cia Federal. O advogado questionou a escolha da Primeira Turma para o julgamento, sugerindo que o caso fosse analisado pelo plenĂĄrio devido Ă  sua relevĂąncia.

O ministro Luiz Fux foi o Ășnico a votar favoravelmente ao pedido de transferĂȘncia para o plenĂĄrio, ficando vencido. Ele justificou sua posição, afirmando que o tema nĂŁo era tĂŁo pacĂ­fico e que, por isso, deveria ser analisado pelo colegiado completo.

O ministro Alexandre de Moraes explicou que a competĂȘncia das turmas foi determinada para desafogar o plenĂĄrio, permitindo que ele se concentrasse nas questĂ”es constitucionais.

Moraes ainda destacou que, para presidentes e ex-presidentes, a prerrogativa de foro Ă© aplicada exclusivamente durante o exercĂ­cio do cargo, mas, apĂłs a saĂ­da, o julgamento pode ocorrer nas turmas do STF.

Julgamento e duplo grau de jurisdição

Outro argumento levantado pelas defesas foi o impacto da decisĂŁo tomada pela Primeira Turma sobre o “duplo grau de jurisdição”, isto Ă©, a possibilidade de revisĂŁo das decisĂ”es por um colegiado completo.

O ministro Moraes esclareceu que, no caso dos acusados com prerrogativa de foro, o duplo grau de jurisdição não se aplica, pois as turmas do STF jå são colegiadas por natureza.

A defesa de Bolsonaro também solicitou a aplicação do princípio do juiz de garantias, mas o pedido foi rejeitado por unanimidade pelos ministros da Corte.

Presença de Bolsonaro no STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma aparição surpresa no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, horas antes do inĂ­cio do julgamento da denĂșncia contra ele. Bolsonaro se sentou ao lado de seus advogados na primeira fila e afirmou que estava presente para acompanhar a anĂĄlise da denĂșncia contra ele.

“Eu sempre espero justiça. Estou bem. Nada se fundamenta nas acusaçÔes feitas de forma parcial pela PolĂ­cia Federal”, disse Bolsonaro apĂłs desembarcar em BrasĂ­lia.

Detenção de advogado

Em um episĂłdio paralelo, o desembargador aposentado SebastiĂŁo Coelho, advogado de Filipe Martins (ex-assessor internacional de Bolsonaro), foi detido pela PolĂ­cia Judicial do STF por desacato ao Tribunal. Coelho foi liberado apĂłs a lavratura de boletim de ocorrĂȘncia por desacato.

Além disso, outros deputados bolsonaristas foram inicialmente barrados na entrada do STF, sendo orientados a acompanhar o julgamento da Segunda Turma. Houve tentativas de tumulto na entrada, com parlamentares protestando contra a restrição.

PrĂłximos passos

O julgamento prossegue nesta quarta-feira (26), Ă s 9h, com a anĂĄlise do mĂ©rito da denĂșncia. Os ministros devem decidir se aceitam ou nĂŁo as acusaçÔes, tornando os denunciados rĂ©us. Caso a denĂșncia seja aceita, o processo seguirĂĄ para a fase de instrução, com depoimentos e outras diligĂȘncias antes do julgamento final.

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