Israel diz que “Gaza está em chamas” ao lançar grande ofensiva terrestre

Israel desencadeou nesta terça-feira o estágio principal de sua esperada ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, declarando que “Gaza está em chamas”, enquanto os palestinos da região relatavam o bombardeio mais intenso sofrido em dois anos de guerra.

Um oficial das Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmou que as tropas terrestres avançavam pela cidade em direção ao centro, e que o número de soldados aumentaria nos próximos dias para enfrentar até 3.000 combatentes do Hamas que, segundo as IDF, ainda estariam na cidade.

“Gaza está em chamas”, postou o ministro da Defesa, Israel Katz, no X. “A IDF ataca com mão de ferro a infraestrutura terrorista, e os soldados da IDF estão lutando bravamente para criar as condições para a libertação dos reféns e a derrota do Hamas.”

Sob escombros

Ao lançar o ataque, o governo de Israel desafiou líderes europeus, que ameaçavam impor sanções, e também os alertas de alguns comandantes militares israelenses, que consideram que a ofensiva pode ser um erro custoso.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apoiou Israel, afirmando a jornalistas na Casa Branca que o Hamas “terá o inferno para pagar” caso use reféns como escudos humanos durante o ataque.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que Trump o convidou para visitar a Casa Branca em duas semanas, após ambos discursarem na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Em uma recente manifestação de preocupação internacional, uma Comissão de Inquérito da ONU concluiu que Israel cometeu genocídio em Gaza, avaliação que Israel classificou como “escandalosa” e “falsa”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que o que ocorre em Gaza é horrível e que a guerra no território palestino é moral, política e legalmente intolerável.

Autoridades de saúde palestinas informaram que um ataque israelense atingiu um veículo que transportava pessoas deslocadas que fugiam para o sul, próximo à estrada costeira na Cidade de Gaza. As mortes desta terça-feira chegaram a pelo menos 75, a maioria na Cidade de Gaza.

O Exército de Israel não se pronunciou imediatamente sobre o ataque.

Imagens obtidas pela Reuters mostraram pessoas subindo em um grande monte de escombros para resgatar vítimas após um míssil destruir dois prédios residenciais de vários andares durante a noite. Uma mulher chorou ao ver o corpo de uma criança pequena ser retirado dos destroços, embrulhado às pressas em um cobertor verde.

Abu Mohammed Hamed relatou que vários parentes foram feridos ou mortos, incluindo uma prima cujo corpo ficou preso em um bloco de concreto. “Não sabemos como retirá-la. Estamos tentando desde as 3 da manhã”, disse.

Novas sanções

Israel renovou os apelos para que civis deixem a área, e colunas de palestinos seguiram para o sul e oeste em carroças de burro, riquixás, veículos carregados e a pé.

“Eles estão destruindo torres residenciais, os pilares da cidade, mesquitas, escolas e estradas”, disse Abu Tamer, de 70 anos, que viajava para o sul com a família. “Estão apagando nossas memórias.”

Horas antes da escalada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou em Jerusalém que, embora os Estados Unidos desejem um fim diplomático para a guerra, “temos que estar preparados para a possibilidade de que isso não aconteça”.

Em Bruxelas, um porta-voz da União Europeia declarou que o bloco deve impor novas sanções a Israel, incluindo a suspensão de certas disposições comerciais.

Em coletiva, Netanyahu afirmou que a lição da guerra em Gaza é que Israel precisa criar uma “indústria de armas independente” capaz de “resistir às restrições internacionais”.

Fuga e permanência

Alguns residentes de Gaza permanecem na cidade, pobres demais para garantir abrigo e transporte ou porque não há lugar seguro para onde ir.

“É como fugir da morte em direção à morte, por isso não vamos embora”, disse Um Mohammad, moradora do subúrbio de Sabra, que está sob fogo aéreo e terrestre há dias.

As IDF estimam que 40% da população da Cidade de Gaza já deixou a área. O Hamas afirma que 350 mil pessoas saíram da parte leste da cidade, buscando abrigos nas áreas centrais ou ocidentais, enquanto outras 175 mil fugiram para o sul.

Grande parte da Cidade de Gaza foi destruída nas primeiras semanas da guerra em 2023, mas cerca de 1 milhão de palestinos retornaram às suas casas entre as ruínas. Forçá-los a sair significa concentrar a maior parte da população em acampamentos superlotados ao longo da costa, com falta de alimentos, suprimentos médicos e espaço.

O porta-voz do Exército israelense, Effie Defrin, afirmou que as forças estão ajustando seus esforços humanitários diante dos deslocamentos e garantiu que “não haverá uma situação de fome em Gaza”.

Nas últimas 24 horas, três palestinos morreram de desnutrição e fome, elevando o total para pelo menos 428 mortes por fome, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Israel afirma que a extensão da fome foi exagerada.

Cessar-fogo

Alguns comandantes militares israelenses manifestaram preocupação de que o ataque à Cidade de Gaza possa colocar em risco os reféns mantidos pelo Hamas ou ser uma “armadilha mortal” para as tropas.

O chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, pediu ao primeiro-ministro Netanyahu, em reunião no domingo, que buscasse um acordo de cessar-fogo, segundo três autoridades israelenses, duas presentes na reunião e uma informada sobre seus detalhes.

O Hamas atacou Israel em outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, segundo registros israelenses. O ataque militar israelense contra o Hamas já matou mais de 64 mil palestinos, conforme dados do Ministério da Saúde de Gaza.

The post Israel diz que “Gaza está em chamas” ao lançar grande ofensiva terrestre appeared first on InfoMoney.

Scroll to Top