
Descanso, reabilitação e paciência são pilares da recuperação de lesões. Mas será que parar de beber álcool deve fazer parte de qualquer plano de recuperação? Foi o que fez o capitão da seleção inglesa de críquete, Ben Stokes, ao dizer que abandonou o álcool para se recuperar rapidamente de uma grave lesão no tendão da coxa.
Embora isso possa parecer extremo, pesquisas recentes mostram que mesmo pequenas quantidades de álcool podem interromper a recuperação e atrasar a cura de cinco maneiras principais:
Interromper a função imunológica
O álcool prejudica a capacidade das células imunológicas de alcançar e reparar tecidos lesionados, retardando a regeneração de músculos, tendões e ligamentos saudáveis. Isso atrasa a limpeza das células danificadas e também prolonga o inchaço e a sensibilidade, o que atrasa ainda mais o processo de reparo.
O efeito do consumo excessivo de álcool (mais de quatro ou cinco doses de uma só vez) no sistema imunológico pode deixar seu corpo vulnerável a infecções e atrasar o processo de recuperação por três a cinco dias. Mesmo o consumo moderado (de uma a três doses de uma só vez) retarda a regeneração do tecido e prolonga o inchaço e a sensibilidade na área lesionada.
Interferir na reconstrução muscular
A síntese de proteína muscular – o processo de reparação e reconstrução muscular – é reduzida por 24 a 48 horas após o consumo moderado de álcool. Em um estudo, a síntese de proteína muscular foi reduzida em 24 a 37% após o consumo de álcool.
Quando esse processo é prejudicado, a regeneração muscular desacelera, resultando em fraqueza persistente, dor e maior suscetibilidade a novas lesões.
Atraso na cicatrização óssea e dos tecidos
Quando ossos, ligamentos, tendões e músculos são danificados, sinais desses tecidos lesionados desencadeiam processos naturais de reparo. Mas o álcool interrompe essas vias de sinalização e interfere nos mecanismos naturais de reparo do corpo, retardando a cicatrização e aumentando o inchaço e a formação de cicatrizes nos tecidos lesionados.
Beber em excesso pode prolongar a recuperação de uma fratura óssea em uma a duas semanas e estender a recuperação de entorses e distensões em duas a três semanas.
Perturbação do equilíbrio hormonal
Os hormônios são mensageiros químicos que coordenam muitos dos processos de recuperação do corpo, incluindo reparo de tecidos, inflamação e crescimento muscular. Dois hormônios de cura especialmente úteis são a testosterona e o hormônio do crescimento. Ambos ajudam a reconstruir os músculos e outros tecidos conjuntivos após lesões.
O álcool reduz os níveis circulantes desses hormônios e prejudica a capacidade do corpo de regenerar tecidos danificados.
Ao mesmo tempo, o álcool aumenta os níveis de cortisol. O cortisol é o principal hormônio do estresse no corpo. Níveis elevados de cortisol convencem o cérebro de que há uma ameaça imediata. O cérebro, então, busca mobilizar a energia disponível em preparação para uma resposta de “luta” ou “fuga”.
Picos de cortisol aumentam a disponibilidade energética, desviando energia de outras funções corporais – como a recuperação de lesões. O cortisol também promove a decomposição de tecidos saudáveis (especialmente músculos) em substâncias químicas mais simples, que podem ser rapidamente convertidas em energia. Esses desequilíbrios podem persistir por dias após o consumo de bebidas alcoólicas e retardar significativamente o reparo tecidual.
Aumento dos riscos de novas lesões
A comunicação clara entre o cérebro e o corpo é essencial para movimentos suaves, precisos e coordenados. Mas o álcool interfere nessa comunicação.
Como resultado, a coordenação, o equilíbrio e o tempo de reação despencam. Os sutis comprometimentos de movimento causados pelo consumo moderado de álcool podem persistir por alguns dias. Isso aumenta o risco de erros de movimento e de novas lesões nos tecidos já vulneráveis.
Álcool e recuperação de lesões
Pesquisas atuais demonstram que não existe um limite seguro para o consumo de álcool durante a reabilitação. Mesmo o consumo baixo a moderado prejudica o desempenho atlético e a recuperação de lesões por alguns dias, dependendo da dose, da pessoa e do aspecto da recuperação avaliado.
O consumo excessivo de álcool (períodos de abstinência seguidos pelo consumo de quatro ou cinco doses em uma única sessão) causa danos substanciais a curto prazo. O consumo baixo a moderado causa perturbações mais sutis, mas essas perturbações geralmente ocorrem com mais frequência.
A decisão de Stokes de se abster de álcool não é um exagero – é um compromisso lúcido e baseado em evidências com a recuperação ideal. À medida que novas evidências remodelam nossa compreensão dos múltiplos impactos do álcool, a mensagem é simples: a reabilitação não acontece no bar. Seja você um atleta profissional, um corredor recreativo ou um “guerreiro de fim de semana” entusiasmado, cada bebida conta.
Ao se recuperar de uma lesão, quanto menos você beber, maiores serão suas chances de recuperação completa. Se o seu objetivo é uma recuperação rápida e completa, então menos é melhor, e nada é o ideal.
Decidir beber álcool durante a reabilitação é uma escolha pessoal. Mas se a cura for a prioridade, uma das maneiras mais simples e controláveis de virar o jogo a seu favor é seguir o exemplo de Stokes e evitar a bebida.
*John Kiely traballha no departamento de Educação Física e Ciências do Esporte da Universidade de Limerick
* Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons.
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