
O advogado Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, um dos réus no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve conversas com o tenente-coronel Mauro Cid pelo Instagram nos primeiros meses de 2024. As mensagens foram trocadas enquanto Cid estava proibido de utilizar redes sociais, segundo medida cautelar em vigor à época e requisito do acordo de delação.
A revelação foi anexada ao processo na forma de uma ata notarial de 51 páginas, que contém capturas de tela das conversas mantidas entre Kuntz e o perfil @gabrielar702 — supostamente utilizado por Cid — entre 29 de janeiro e 13 de março deste ano.
O envio das mensagens à Justiça ocorre dias após a revista VEJA divulgar trechos semelhantes, mas cuja veracidade é contestada pela defesa de Cid, que nega ter utilizado redes sociais no período.

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Críticas à PF e acusações de manipulação nos depoimentos
Nas mensagens entregues por Kuntz, Cid afirma que o delegado Fábio Shor, da Polícia Federal, teria tentado induzi-lo a associar seus depoimentos à ideia de um golpe. “Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca… E eu pedia para trocar”, teria escrito o delator. “Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe”, completa.
A defesa de Marcelo Câmara alega que as conversas comprovam “falta de voluntariedade” por parte de Cid, o que, na visão dos advogados, torna inválido o acordo de colaboração firmado com a PF. “O malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC Cid não pode e nem deve prosperar”, argumenta a petição.
Tentativa de anular a delação repercute entre réus
Os trechos das conversas entre Cid e Kuntz passaram a embasar pedidos de anulação da delação também por parte das defesas de Jair Bolsonaro e de Walter Braga Netto, ambos réus no processo do plano golpista. O argumento central é que a delação teria sido forçada ou conduzida sob pressão, violando os princípios legais do instituto.
Cid desconversou sobre perfil no STF
Durante seu interrogatório no Supremo na semana passada, Mauro Cid negou ter utilizado perfis falsos ou de terceiros para se comunicar nas redes sociais. Questionado por Celso Vilardi, advogado de Bolsonaro, sobre o perfil @gabrielar702, o ex-ajudante de ordens afirmou: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Cid reforçou que todos os seus celulares foram apreendidos e que não acessou redes durante o período restritivo. A negativa, no entanto, contrasta com as evidências apresentadas por Kuntz na ata entregue à Corte.
Críticas a ministros do STF
Em trechos das conversas registradas, Mauro Cid também comenta sobre a atuação de ministros do Supremo. Refere-se a Alexandre de Moraes como “o cão de ataque” e a Luís Roberto Barroso como “o iluminista pensador”.
Segundo Cid, “quem executa é o AM, como um CEO de uma empresa”. Ele também cita Gilmar Mendes como o “articulador que coloca todo mundo no eixo”.
As mensagens ainda incluem críticas ao delegado Fábio Shor, chamado por Cid de “carreirista” e “esperto”, com a alegação de que teria recebido um “objetivo final” e estaria apenas “preenchendo lacunas”.
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