
Algumas pessoas que tomam Ozempic, Wegovy ou Mounjaro podem perceber uma mudança no sabor de alguns alimentos: alguns dizem que eles tenham ficado mais salgados e outros mais doces do que antes. É o que aponta uma nova pesquisa apresentada na Reunião Anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD) em Viena, Áustria.
Cerca de um em cada cinco participantes do estudo real perceberam essa mudança, que foi associada ainda a uma redução no apetite.
“Terapias baseadas em incretina, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, são amplamente utilizadas para controle de peso, mas seu efeito na percepção do paladar não está claro”, diz Othmar Moser, da Universidade de Bayreuth, Bayreuth, Alemanha, que liderou a pesquisa.
“Se as mudanças no paladar estiverem relacionadas a um maior controle do apetite e à perda de peso, isso poderá ajudar os médicos a selecionar melhor as terapias, fornecer aconselhamento dietético mais personalizado e melhorar os resultados do tratamento a longo prazo para os pacientes”, diz o pesquisador.
Para a pesquisa, o professor Moser e colegas da Universidade Médica de Viena entrevistaram cerca de 411 pessoas (69,6% mulheres) — sendo que 148 tomavam Ozempic, 217 tomavam Wegovy e 46 tomavam Mounjaro.
A duração mediana do tratamento foi semelhante nos três grupos (Ozempic: 43 semanas; Wegovy: 40 semanas; e Mounjaro: 47 semanas), com todos os participantes recebendo tratamento por pelo menos três meses consecutivos.
O IMC médio antes do início do tratamento era de 34,7 kg/m² (Ozempic), 35,6 kg/m² (Wegovy) e 36,2 kg/m² (Mounjaro).
Os participantes, que foram recrutados online, foram questionados se seu paladar (percepção de doçura, salinidade, acidez e amargor) havia mudado desde o início do tratamento. Eles também foram questionados sobre mudanças no apetite, saciedade e desejos por comida, bem como mudanças em fatores de estilo de vida, como fumar, e sobre dados autorrelatados sobre altura e peso antes e durante o tratamento.
As reduções no IMC, ajustadas pela duração do tratamento, dose, IMC basal, idade e sexo, foram de 17,4% com Ozempic, 17,6% com Wegovy e 15,5% com Mounjaro.
Um quinto dos participantes afirmou que a comida estava mais doce (21,3%) ou mais salgada (22,6%) do que antes. Entretanto, a percepção quanto ao amargor e à acidez não mudaram.
Cerca de 26,7% dos participantes do grupo Wegovy relataram que a comida estava mais salgada do que antes, em comparação com 16,2% no grupo Ozempic e 15,2% no grupo Mounjaro. Aumentos na doçura foram relatados em frequências semelhantes em todos os grupos (Wegovy 19,4%, Ozempic 21,6%, Mounjaro 21,7%).
Mais da metade dos participantes (58,4%) relataram que estavam com menos fome em geral, ou seja, seu apetite havia diminuído (Ozempic: 62,1%, Wegovy: 54,4%, Mounjaro: 56,5%).
6 em cada 10 participantes relataram aumento da saciedade (Ozempic: 58,8%, Wegovy: 66,8%, Mounjaro: 63,1%). Os desejos por comida também foram reduzidos, com 41,3% dos usuários de Mounjaro relatando uma forte redução nos desejos, ou seja, seus desejos eram muito menos intensos do que antes, em comparação com 34,1% dos que tomaram Wegovy e 29,7% dos que tomaram Ozempic.
Além disso, os participantes que relataram que a comida ficou mais doce desde que começaram a pesquisa tiveram duas vezes mais chances de relatar maior saciedade, em comparação aos participantes que disseram que sua percepção de doçura não havia mudado.
Da mesma forma, os participantes que disseram que a comida estava mais salgada do que antes tinham cerca de duas vezes mais probabilidade (2,17 vezes) de também relatar maior saciedade, em comparação com aqueles cuja percepção de salinidade não mudou.
“Esses medicamentos atuam não apenas nas áreas do intestino e do cérebro que controlam a fome, mas também nas células das papilas gustativas e nas regiões do cérebro que processam o sabor e recompensa. Isso significa que eles podem alterar sutilmente a percepção de sabores fortes, como doce ou salgado. Isso, por sua vez, pode afetar o apetite”, afirmou Moser.
O estudo, porém, apresenta algumas limitações, como a incapacidade de provar a causalidade, o autorrelato de dados e a possibilidade de os participantes não serem representativos do grupo de pacientes como um todo.
“Medicamentos como Wegovy, Ozempic e Mounjaro podem alterar o paladar, fazendo com que os alimentos pareçam mais doces ou salgados e ajudando as pessoas a se sentirem saciadas mais rapidamente e com menos fome. Para a prática clínica, isso sugere que monitorar as alterações no paladar dos pacientes pode fornecer pistas úteis sobre a resposta ao tratamento, mesmo que o paladar por si só não impulsione diretamente a perda de peso”, disse Moser.
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